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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Próximo de uma década no Botafogo, Jair analisa ano: "Um mês não pode apagar 10"


Com 99 jogos à frente do time, treinador admite que time não fez por merecer vaga na reta fica e revela que não consegue rever gol do Grêmio na Libertadores: "Não olho. É sofrer demais"





Jair Ventura na praia do Leme. Treinador não frequenta o local há mais de um ano (Foto: Marcelo Baltar)


Tão surpreende quanto o ano do Botafogo foi a queda na reta final. Deixar a vaga na Libertadores escapar na última rodada manchou o bom trabalho de toda uma temporada. Hora de juntar os cacos, aprender com os erros e ... trabalhar.


Enquanto jogadores desfrutam de férias, Jair Ventura vem se reunindo com a direção para avaliar saídas e chegadas. Na próxima semana participará mais uma vez do curso de treinadores da CBF, antes de tirar cinco dias para viajar com a esposa. Ele não terá tempo, por exemplo, para curtir a praia do Leme, onde costuma (ou costumava) jogar futevôlei. Há mais de um ano pisa na areia.


E foi justamente no local que ele conversou com o GloboEsporte.com. Na entrevista, analisou a temporada, reconheceu que o Botafogo não fez por merecer a vaga, admitiu que não consegue rever o gol do Grêmio que o eliminou da Libertadores e falou sobre os planos para 2018, quando completará 100 jogos (tem 99) à frente do time e dez anos de General Severiano.


Análise de 2017

Resumo o ano em duas partes. Dez meses maravilhosos e um mês muito ruim. Nos primeiros dez meses passamos pela Pré-Libertadores, primeiro lugar na fase de grupos, oitavas de final e paramos nas quartas para o atual campeão da América. Não lembro de uma equipe que tenha feito jogo tão duro contra o Grêmio. Fomos até a semifinal da Copa do Brasil. Saímos por causa do drible do Berrío. Estudo muito os adversários, mas foi um drible que ninguém nunca tinha visto. Nos custou a vaga.

No Brasileiro sempre brigamos na parte de cima da tabela, mas novembro foi muito ruim, tivemos apenas uma vitória. Fomos muito abaixo do que fizemos no decorrer do ano. E com isso perdemos essa vaga e para alguns manchamos esse ano que tinha tudo para ser maravilhoso.


Cuidado com as palavras

Aprendi que temos que tomar cuidado com tudo o que falamos. Quando as coisas não vão bem, tudo o que você fala tem diversas interpretações. Falo o que eu penso, mas nem sempre sou interpretado da melhor maneira. Como treinador você tem que expor o que pensa.



Jair Ventura diz que recebe carinho de todas as torcidas (Foto: Marcelo Baltar)


Faltou um título?
Você pode fazer um grande trabalho sem título. Lógico que o título é o mais importante. Mas o Botafogo vinha de uma Série B em 2015, quando assumi em 2016 o time estava para ser rebaixado e conseguimos a classificação para a Libertadores e fizemos um grande ano em 2017.

Mas concordo que em novembro deixamos a desejar. Estava nas nossas mãos a vagas. Isso deu uma manchada no ano.


Por que a vaga escapou?
No ano passado, quando demos a arrancada para a Libertadores, caímos na Copa do Brasil para o Cruzeiro e deixamos todo o foco no Brasileiro. Nesse ano tivemos outras competições paralelas. As pessoas falam que em novembro já não estávamos mais em outras competições, mas deixamos o nosso melhor nelas. Pagamos um preço fisicamente por conta disso e também pelas perdas.


Perdi meu artilheiro, ficamos 16 jogos sem o Roger. O nosso time sentiu. Apesar de o Brenner e o Vinícius (Tanque) terem entrado, o Roger era o meu artilheiro. É como tirar o Jô do Corinthians ou o Henrique (Dourado) do Fluminense... vai fazer falta. Perdi também o Airton, o Camilo, o Montillo, o Sassá...


Jogadores que começaram o ano e fizeram bastante falta. É um aprendizado. O que poderia ser feito de diferente? Difícil, se você não tem outra coisa a ser feita. Pagamos o preço por ter jogado 120%, mas se não jogássemos assim, não teríamos passado por tantas coisas boas nesse ano.


Ficamos tristes. O torcedor está triste. Mas peço para o torcedor entender. Um mês não pode apagar dez.



Botafogo venceu apenas um jogo em novembro e ficou fora da Libertadores 2018 (Foto: Marcos Riboli)


Peso psicológico

Trabalhamos muito com os números da fisiologia. E mesmo com todo o cansaço, mantivemos o mesmo padrão físico, a mesma intensidade. Realmente tivemos uma queda, perdemos três jogos em casa (Fluminense, Atlético-PR e Atlético-GO), o que foi determinante. Custou caro. Mas não faltou entrega, fomos valentes, mas não conseguimos a classificação


Mercado
Fico preocupado. Desde o ano passado, quando assumi, digo que a grande contratação é a manutenção da equipe. Facilita a vida do treinador. Todas as perdas preocupam. Temos um mercado muito violento, e o Botafogo vive um momento muito delicado financeiramente. Temos uma grande camisa, grande história, mas um momento muito complicado financeiramente.


Poucas pessoas falam, mas não poso esconder a realidade da minha torcida. Estamos bastante aquém financeiramente. Mas temos que nos reinventar e não errar nas contratações. Entendo que a torcida está magoada, também estamos tristes. Agora com muito trabalho e dedicação queremos resgatar a torcida e dar muitas felicidades para ela em 2018


Saída Bruno Silva
Ao lado do Roger, foi o jogador que mais teve participação nos gols do Botafogo nesse ano. Será uma perda significativa. O Carlos Eduardo Pereira (presidente) já falou que não vai liberá-lo de qualquer maneira. Quem quiser tirá-lo vai ter que fazer por onde. Não posso abrir mão de um jogador tão importante para a nossa equipe.


Não adianta você me dar a quinta opção de outro time e levar uma das minhas peças mais importantes. Seria injusto. Tem que ser bom financeiramente para o clube ou que venham jogadores no mesmo nível técnico.


Base
Não podemos construir um time só com os meninos da base. Sou a favor de mesclar, mas temos que saber a hora de usar para não queimar os meninos. O Luís Henrique pulou do sub-17 para o profissional, e a carreira não aconteceu. Temos que ter calma. Temos o Ezequiel que marcou contra o Cruzeiro, mas fez só dois jogos. Temos que ter calma. É uma joia do Botafogo.


Carências
Acho que principalmente um atacante de velocidade. Eu queria, por vezes, jogar com três atacantes, mas só tinha Pimpão e Guilherme. Não podia iniciar com os dois e não ter uma outra opção no banco para uma opção mais ofensiva.


Sei que nossa diretoria fez de tudo, mas não tínhamos condições financeiras. Dentro do que tínhamos, fizemos o nosso melhor, criamos alternativas de jogo.


100 jogos
Marca importante. Vou para um curso de treinador da CBF, que participei no ano passado. Eu sou o único treinador que está voltando no mesmo clube. O Eduardo Batista estava no Palmeiras, foi para o Atlético-PR e terminou na Ponte. O Roger (Machado) estava no Grêmio, foi para o Atlético-MG e já está no Palmeiras.

Vida de treinador é muito difícil. Se esse mês ruim de novembro fosse no início, eu não estaria mais no Botafogo. Mas é a vida que escolhi, e estou mais preparado para os momentos ruins do que os bons. Os bons a gente tira de letra.

Nota: Jair Ventura tem 99 jogos no comando do Botafogo


Renovação até 2020?


Jair Ventura (Foto: Marcelo Baltar)

Eu tenho contrato até o fim de 2018. Fico feliz pela declaração do novo presidente (Nelson Mufarrej). Vamos sentar e conversar. É claro que o torcedor está magoado e não vai achar que renovar com o treinador nessa situação é a melhor solução. Mas só posso reverter isso com trabalho. Queremos títulos, que é o que a nossa torcida merece.


Momentos marcantes em 10 anos de Botafogo
Foram vários. Meu primeiro título na base, em 2012, com um gol do Sassá. O jogo contra o Estudiantes, uma vitória em casa no meu aniversário. A arrancada e classificação para a Libertadores no ano passado. Momentos que jamais vou esquecer.


Trajetória
Cheguei em 2008 como estagiário de preparação física. No ano seguinte fui efetivado como quarto preparador. No final de 2009 virei auxiliar técnico do Ney Franco. Em 2010 fiz meu primeiro jogo como interino, com apenas 30 anos. Foi nessa época que fui trabalhar nas categorias de base da CBF, onde fiquei por três anos.

Disputei três sul-americanos e um Mundial. As coisas começaram a andar. Parece que as coisas aconteceram muito rápido, mas meu primeiro curso de treinador foi em 2005. São 12 anos percorrendo nesse caminho.



Críticas

Acho que aconteceram quando era para acontecer. Realmente deixamos a desejar. Vieram num momento muito ruim. Sei que no futebol não há passado. O torcedor está muito magoado por esse mês de novembro. Ele não quer saber dos últimos dez meses. E ele tem esse direito.


Escolhi ser treinador por isso, gosto de responsabilidades. Não vou mudar minha conduta por conta das críticas. Vou buscar sempre o equilíbrio. Não me achei o melhor treinador do mundo quando levei o Botafogo da 17ª para a 5ª colocação, e agora não vou me esconder embaixo da cama.


Futuro

Sou muito do presente. Penso no hoje. Penso em fazer o meu melhor no Botafogo. Preciso resgatar a torcida, preciso dar alegria para eles. Vivo o momento.


Metas para 2018

Fazer o melhor em todas as competições


Clima no vestiário
O clima foi o pior possível (após o jogo contra o Cruzeiro). Sabemos que o ano foi bom, mas deixamos manchado pela reta final. Foi um clima de tristeza. O sentimento da torcida é o nosso. Deixamos escapar essa vaga. Temos que fazer diferente em 2018 e ver onde erramos


Gol do Grêmio na Libertadores
Não... não olho. É sofrer demais. É complicado perder uma situação de um ano por um lance.


Fonte: GE/Por Gustavo Rotstein, Marcelo Baltar e Raphael Sibila, Rio de Janeiro

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