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domingo, 30 de setembro de 2018

Biriba, fundador de 14 anos, Seleção... Com o pai, Erik se encanta no "batismo" em General


Acompanhado do pai, o alvinegro fanático Bernardo, atacante de 24 anos passeia pela história do Botafogo em visita à sede do clube e se impressiona com ídolos e superstições




Fred Gomes



Dos campos de terra do assentamento no Tuerê a destaque do Botafogo, Erik emociona pai


Erik viveu seu primeiro grande dia no Botafogo há uma semana, quando foi o protagonista do triunfo por 4 a 3 sobre o Vitória, em Salvador. Fez um gol e teve participação efetiva em outros dois.


Durante a semana, porém, sem precisar correr, curtiu cada metro percorrido durante sua primeira visita a General Severiano, sede do Botafogo, realizada na companhia do pai, o fanático alvinegro Bernardo Araújo.


Suspiros, sorrisos e expressão de surpresa com cada novidade apresentada chamavam atenção nos semblantes do jogador de 24 anos e do pai, oriundos de Novo Repartimento, no Pará. Erik ainda não tinha estudado a fundo a história alvinegra, mas, dado o entusiasmo com o passeio, apontava para ídolos e os identificava um a um para o pai com propriedade. Parecia o guia de "Seu Bernardo".



Erik aponta para Bernardo as imagens de Garrincha, Didi, Carlos Alberto Torres e outros monstros alvinegros — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


Da entrada principal, fitou um muro que fica na calçada oposta à saída da Rua Venceslau Brás e começou a escalar o time: Carlos Alberto Torres, Garrincha, Nilton Santos... Repetiu algumas vezes o nome do Capita. E suspirava: "Que time é esse, pai?".


Após passar pelo Salão Nobre, encaminhou-se para o Túnel do Tempo de General Severiano e logo se impressionou com uma frase escrita na parede e que tanto orgulha os botafoguenses: o clube que mais cedeu jogadores para a Seleção em Copas.



Erik se sente mais perto da Seleção como alvinegro — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


- Pai, estou mais perto da Seleção, hein (risos)?



Com encantamento nos olhos, Erik e o pai olham para os dois maiores alvinegros de todos os tempos — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

Parou diante da taça do Carioca de 1907, contemplou uma imagem de Nilton Santos com as mãos sobre o inseparável amigo Garrincha e viajou na história alvinegra... E olha o Túlio aqui... Olha o Josimar acolá... Ídolos, Conmebol 1993, Brasileiro 1995 e o que mais chamou atenção? A superstição de cada dia botafoguense!

- Sensação muito boa. Já vesti camisas de grandes clubes do Brasil. Você sempre se interessa pelas histórias dos clubes, porque o jogador tem que saber o que significa. Hoje foi muito especial. Nunca tinha passado pelo túnel do tempo. Você vê cada história, até a do Biriba, do cachorro. Você não tem muito acesso a isso até porque fica muito focado no clube que está vestindo a camisa e não conhece totalmente a história.



Erik e o pai Bernardo se encantaram com as histórias nas paredes de General Severiano — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


- Superstição, né? Trabalhei com técnicos supersticiosos. A história do jovem de 14 anos (Flávio Ramos, primeiro presidente do clube em que atuou também como goleiro e atacante) que fundou o clube com os amigos também me chamou atenção. É muito interessante saber um pouco mais dessas histórias. A história de ser o clube que mais levou jogadores, até para encarnar mais ainda na gente. É um clube que tem uma história ainda maior do que os outros imaginam.



Erik se impressiona com a história de Flávio Ramos, primeiro presidente do Botafogo e que, aos 14 anos, fundou o clube ao lado de amigos — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

O trajeto teve paradas obrigatórias diante de algumas imagens de Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas. E, em uma delas, a inscrição: o melhor ponta-direita de todos os tempos.

- Que responsa ser ponta-direita, hein, pai?



Erik é ponta-direita, assim como Garrincha, o maior do Botafogo e da posição de todos os tempos — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


A visita a General Severiano terminou na Sala de Troféus, onde o pai de Erik pôde ver, além de taças, camisas históricas de Jefferson, Loco Abreu, Nilton Santos e outros heróis. E lá, com emoção, recebeu das mãos do filho a camisa do primeiro gol de Erik pelo seu querido Botafogo. E ele não quer parar em uma só.



Erik entrega a camisa do gol marcado contra o Vitória para o pai — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com

- Pai, cuide bem assim como você cuidava das camisas do seu "Botafoguinho" (Bernardo, inspirado no time de coração, fundou em 1993 um Botafogo em Nova Repartimento, no Pará).

- Tomara que você faça mais gols, porque eu vou pegar para mim as outras camisas (risos) - brincou seu Bernardo.

Confira abaixo entrevista feita com Erik após a visita:

Momento feliz no Botafogo

Uma alegria não só para mim, mas para o meu pai. Qual garoto não sonha vestir essa camisa do Botafogo? Essa Estrela maravilhosa? Ele tinha um time com as mesmas cores, inspirado no título da Sul-Americana (Copa Conmebol) de 1993. É algo gratificante dar essa alegria para o seu pai.

+Botafoguense e citado pelo filho na apresentação, pai de Erik não abre mão da camisa de estreia: “Guardar para sempre”



Dá um abraço aqui, papai! — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


Visita a General e camisa de presente para o pai

Confesso para vocês que está sendo um momento muito especial da minha carreira. Estou muito feliz com o carinho do torcedor. Fiz um mês aqui e parece que já estou há muito tempo. Fui muito bem recebido e estou feliz por estar correspondendo.


A gente vem de duas vitórias, numa crescente. E o gol, né? É um momento único e marcante. Ia dar minha primeira camisa do clube para o meu pai, tomei nova decisão e resolvi dar a do primeiro gol.


O que representa receber o pai em General?

Vim ao Rio em outras oportunidades, estava brincando com minha esposa, que gosta muito de futebol, que fiz gol no Flamengo, no Fluminense e no Vasco. Já fiz gols no Maracanã, mas o Botafogo foi uma equipe na qual eu não tinha feito gol. O destino quis que eu estivesse aqui realizando o sonho do meu "véio".


Quero viver intensamente cada momento desse clube. Apesar de ser um contrato de pouco tempo (até dezembro), espero que se transforme em muitos anos.



Erik mira a taça da Copa Conmebol, conquistada em 1993 e tratada pelo Botafogo como o primeiro título do clube na Sul-Americana — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com




Lembranças da infância no assentamento agrícola Tuerê, próximo a Novo Repartimento, onde nasceu

Tuerê é um assentamento, onde os vizinhos conviviam com uma proximidade grande de uma casa para a outra. Lembranças muito boas. Meu pai na lavoura plantando e colhendo. Sempre me levando em todos os lugares, aqueles torneios em que todos se reuniam na casa dos outros.

Saí criança de lá, com 10 anos, mas sempre fica na cabeça seu pai te carregando no colo. Tenho muito a minha família na cabeça. Meu irmão, minha mãe. Era só a gente, não tinha TV, uma vida muito simples.



Erik: de Novo Repartimento, no Pará, para os pés do Cristo Redentor em General Severiano — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


Acho que a criação que meus pais me deram com humildade e respeito ao próximo ficou muito encarnada em mim. O Tuerê me transformou. Um garoto simples que está em busca de grandes voos lutando para conquistar espaço.


Não é fácil sair do Norte do país, passar por aquelas pontes e estradas complicadas. As pessoas têm de olhar para lá. Sempre vou lá e me machuca muito ver essa realidade. Agradeço muito por sair e por conquistar algumas coisas.


Valeu a pena passar por tudo que passou até chegar aqui?

Com certeza. Com o passar do tempo, você vai amadurecendo e fica um pouco mais durão. Mas você tem que ser realista com coisas que mexem contigo. Se vou a campo, vou me entregar de corpo e alma. No treinamento, vou deixar tudo lá dentro. Jamais vou perder a essência (emocionado). Valeu a pena cada momento difícil, cada dia de serviço que meu pai chegava de tardezinha para dar o alimento para mim e para o meu irmão.


Meu irmão é um orgulho muito maior do que ser jogador de futebol, ele está se formando em Administração. Graças à coragem da minha mãe e do meu pai e pela nossa dedicação. Nos tornamos uma família mais forte superando essas dificuldades.


FUTEBOL NO SANGUE: NASCIDO UM DIA APÓS O TETRA DE 1994, ERIK POR POUCO NÃO VIRA BEBETO...


BERNARDO: Quando Erik nasceu, fomos campeões em 17 de julho, e a cidade estava em festa. Minha esposa já estava sentindo o sinal. Aquilo que me trouxe preocupação porque os médicos estavam todos na comemoração de um título que não ganhávamos há 24 anos. Todo mundo ia comemorar, até quem não gosta de futebol.



Erik e o pai conheceram juntos a sede do Botafogo — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


Pensava: "No outro dia esse médico vai estar bom? (risos)" Nasceu com muita saúde, o moleque nasceu na flor da pele pelo futebol. História muito boa. Nasceu com futebol e com o sangue de vencedor que o brasileiro tem. Foi felizardo de nascer num momento de comemoração de um título tão importante. No nosso Brasil, apesar de ter coisas ruins e os governantes esquecerem nossa sociedade, a gente é vencedor, alegre e comemora.


Eu recebi muita ideia dos nossos médicos e amigos de botar Bebeto. Todo mundo pedia, mas eu queria dar um nome diferente para ele. Já tinha um Bebeto em ascensão.


ERIK DIVERGE DO PAI:

Meu nome era para ser Bebeto (risos), mas, graças a Deus, minha mãe não deixou. Ele fala isso, mas ele que queria, minha mãe que não deixou. Se bem que os amigos também falavam em Romário e Bebeto naquela superseleção que foi campeã nos Estados Unidos. Eu nasci um dia depois com os médicos todos em festa (risos).



Erik e Seu Bernardo olham para o time que conquistou a Conmebol em 1993 — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


SEU BERNARDO CELEBRA VISITA

Felicidade e emoção de conhecer a história do Botafogo e como é a casa dele. Recebe torcedor, onde o torcedor se sente à vontade. Orgulho estar aqui não só como torcedor, mas como pai de um atleta que está representando bem essa camisa.



Erik e Seu Bernardo em General Severiano — Foto: Fred Gomes/GloboEsporte.com


Fonte: GE/Por Fábio Juppa, Fred Gomes e Guilherme Oliveira — Rio de Janeiro

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