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domingo, 17 de março de 2019

Do Fluminense ao Botafogo, Diego Souza passa carreira a limpo e desaba ao falar de tio alvinegro


Novo 7 alvinegro chega ao seu nono clube dentre os 12 principais do país; ao tratar de todos, revela arrependimento de ter defendido o Flamengo em 2005, já que acabara de deixar o Flu



André Durão/GloboEsporte.com




Diego Souza estreia no Botafogo contra o Fluminense e dá início a passagem pelo décimo clube brasileiro na carreira



Diego Souza fará sua estreia pelo Botafogo neste domingo, às 19h, contra o Fluminense, justamente quem o revelou. O jogador de 33 anos chega ao seu 10º clube dentre os principais do país. O Esporte Espetacular passou a limpo toda a trajetória de Diego pelo futebol brasileiro. A reportagem tratou de Fluminense, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Atlético-MG, Vasco, Cruzeiro, Sport e São Paulo.


Mas o coração de Diego Souza acelerou mesmo quando falou da camisa que passa a vestir a partir deste domingo. Se na apresentação já revelara a paixão de sua mãe, Cristina, pela Estrela Solitária, o centroavante chorou muito ao lembrar de Seu Valdir Ermida, o Aritana.



Diego Souza se emocionou muito ao falar de Seu Valdir — Foto: André Durão/GloboEsporte.com


Seu Valdir, amigo da família de Diego Souza, era botafoguense fanático e tio de consideração do jogador. Esteve com o sobrinho desde o início no Fluminense e tinha a certeza de que um dia veria o menino vestido de preto e branco. Valdir não pôde ver a confirmação da profecia nesse plano , mas está cheio de orgulho no lugar em que estiver, garante o camisa 7.


- E essa história com o Botafogo é desde quando eu comecei a jogar futebol. Minha mãe é botafoguense, e tem um rapaz que já se foi e que Deus o tenha bem perto. Ele me acompanhou muito. Muito, muito, muito. E toda vez ele falava que um dia (pausa emocionada)... Sou durão assim, mas, se tiver que falar do meu pai ou de algumas coisas, é meio complicado. Sempre falava que eu ia vestir essa camisa do Botafogo. E hoje está longe, mas, de onde ele estiver tenho, tenho certeza que é um orgulho.



Seu Valdir Emirada, o Aritana, o "tio" botafoguense fanático que emocionou Diego Souza — Foto: Arquivo Pessoal


Valdir era compositor e até música fez para Diego e seus amigos de Xerém. Não perdia um jogo do Fluminense e sempre o incentivava nas boas ou nas más.


- É um cara fantástico. Tenho certeza de que se estivesse vivo hoje, ele ia ter problema porque é um botafoguense fanático. Toda vez que jogava contra, trocava camisa e dava para ele. É uma alegria muito grande estar vestindo essa camisa e de poder dar alegria a uma pessoa que foi importante demais na minha carreira. Meu pai, quando eu ia mal, sempre pegava no meu pé. E ele dizia: "que nada, foi legal para caramba". Sempre me jogou muito pra frente e pra cima - recorda.


Diego falou muito mais de Botafogo, do Fluminense, que o revelou, e do arrependimento de ter defendido o Flamengo num momento em que deveria ter voltado para o Tricolor, segundo ele. Também tratou dos outros grandes que defendeu, entre os quais cita o Sport, clube com o qual se vê mais identificado. E, obviamente, abordou o Clássico Vovô deste domingo.



Leia a entrevista na íntegra abaixo:


Saída do São Paulo

Eu tava no São Paulo, um clube fantástico, estrutura maravilhosa, mas as coisas não estavam caminhando da maneira que todos esperavam, e o futebol dá sinais. E chegou o meu momento de sair. Chegou a ter conversa com o Sport. Eu não ia sair do São Paulo, eu ia para o Sport. Não deu certo, e o Botafogo fez de tudo para contar comigo. E o Zé Ricardo já tinha conversado comigo uns tempos antes. O time do Botafogo eu posso ajudar. Tem jogadores jovens, de qualidade e rápidos. Isso tudo a gente vai analisando.



Não saí do São Paulo atirando para alguns lados. Não, quando tive a oportunidade de conversar com Zé e o Anderson Barros, eles fizeram questão de contar comigo. Isso tudo pesou muito. Apesar de eu gostar muito do Rio e de praia, da minha família ser daqui, eu vim para o Botafogo. É o meu trabalho, eu aceito esses desafios bons de poder chegar, agregar e fazer com que a gente consiga jogar um bom futebol.



Aceitação instantânea da torcida alvinegra nas redes


Fiquei muito feliz. Hoje as redes sociais dizem muitas coisas. A gente entra e vê que o torcedor te abraça, fala: "vem, vamos ser felizes juntos no Botafogo". Isso dá uma animada. Foi muito legal, e eu estava esperando essa negociação terminar logo, porque a gente acaba ficando ansioso. Graças a Deus, deu tudo certo.


Essa aceitação acho que vai mais pela minha história. Por onde eu passei, por mais que em alguns lugares tenha sido rápido, eu sempre me doei bastante, sempre dei minha cara à tapa. Vou defender esse escudo com toda a minha força e minha vontade. Pode ter certeza que estou extremamente esperançoso e motivado para esse ano de 2019. O futebol está muito mais na cabeça e do que você consegue colocar na cabeça de que você pode. Quando consegue colocar isso, você tem tudo para fazer um bom ano. Lógico, tem que trabalhar muito, mas temos tudo para fazer bons campeonatos.




Em sua apresentação, Diego tirou muitas selfies com a galera alvinegra — Foto: Vitor Silva / SS Press / BFR




Desejo de estar com o torcedor e paciência nas selfies após a apresentação

É muito legal ter esse oba-oba, é gostoso. Sou um cara que não gosta muito disso, gosto mais do torcedor no campo. Mas num sábado e com a apresentação do jeito que foi, nada mais justo do que eu tirar foto com aquelas crianças e toda a rapaziada que estava ali. Que força eu faria ao perder meia-hora ou 40 minutos? Isso fazia diferença para eles. E para mim também fez, porque o meu respeito por eles era aquilo que eu tinha de fazer: tirar foto, dar atenção.



Grupo comprou a ideia de Zé Ricardo

Eu acho que o mais importante hoje no Botafogo é que você pode ter certeza que o grupo, com o pouco tempo que eu tenho, comprou a ideia do Zé. Então, se comprou a ideia do Zé e está feliz fazendo aquilo ali, a chance de dar certo é muito grande. Felicidade no futebol, todos nós sabemos o que é: é vitória, é ganhar, é conquista.



Botafogo encorpou com a sua chegada e de experientes como Cícero e Cavalieri?


Está todo mundo parelho. Tem um time ou outro destoando pela qualidade de elenco ou por estar há mais tempo junto. Mas está todo mundo parelho. Se você bota na sua cabeça que dá e trabalha forte no dia a dia por esses objetivos, consegue fazer bons jogos contra qualquer um. Ninguém vai chegar aqui e prometer que a gente vai ser campeão, mas que a gente vai o mais rapidamente criar uma identidade de equipe e que o torcedor vai sair de casa sabendo o que ele vai ver, isso é o mais importante. Eles ficam felizes quando sabem o que time vai mostrar em campo, deixam de fazer qualquer coisa na vida pessoal, para ir ao jogo e ver o time ganhar.



Diego Souza, Botafogo — Foto: André Durão/GloboEsporte.com



Identidade criada no Botafogo

Identidade é você entender bem o que o Zé pede, ter a personalidade de jogar quando estiver com a bola. Tem que ter a gana de ter a bola, de rodar, de dificultar para o adversário. Essas coisas vamos trabalhando e entrosando. Temos que procurar fazer o que temos de melhor. Se o nosso melhor é jogar no contra-ataque, vamos fazer isso com toda a nossa força. Se é jogar em cima do rival, vamos fazer com toda a força.



O que já viu de diferente dentro do clube e da torcida do Botafogo em relação aos demais?

Aquele momento que falei de esquecer os times que já joguei, foi um momento de felicidade e de estar perto dos meus pais, minha esposa e meus filhos. Falar de outras equipes naquele momento não era nada na minha vida. Queria falar do Botafogo. Quando saí de General Severiano, vim no carro com a minha família e reparei em algo que foi muito legal. O Botafogo é uma família ali. Todo mundo empolgado, o torcedor é bem apaixonado. O dia a dia das pessoas que vivem ali em General Severiano. De quem limpa ao presidente, você vê aquele carinho e todos bem felizes de estarem fazendo o que fazem.



Como encara a marca de chegar ao seu 10º grande dentre os 12 principais do Brasil?


Surgi cedo, acabei sendo vendido, voltei emprestado. Quando eu estava no Benfica, como era novo e não estava jogando, voltei duas vezes emprestado. Aí, você já vai para dois times diferentes. Foram experiências maravilhosas, aprendizados e conquistas. Eu joguei a minha vida inteira mais aqui dentro do Brasil.



Por que quase sempre nunca teve passagens duradouras? É inquietude, vontade de buscar o melhor, de querer ser ídolo?

Hoje no futebol vai melhorar bastante, mas na minha época eu era de uma empresa. E isso faz com que você tenha de ser vendido ou tenha pedaços. Creio que isso atrapalhou um pouco. O objetivo da empresa é vender o produto. Eu fui vendido, oferecido, mas tenho a consciência de que, dessas equipes para as quais eu fui, na maioria delas, quase em todas, eu fui muito bem. Fiz meus gols, eu tive meus momentos de glória, de jogar bem o meu futebol. E eu tenho que estar feliz.



O Sport foi o clube pelo qual Diego mais jogou como profissional — Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press



O Diego que chega ao Botafogo é muito diferente daquele que surgiu no Fluminense?


Sempre muda, você vai ficando mais velho, ganhando experiência e vendo o que você fazia de errado e de certo. Mudei muito.




Volta ao Brasil e arrependimento de defender o Flamengo, o rival do Flu, que o revelou

Isso gerou um desgaste. Minha intenção naquele momento nunca foi de voltar para o Flamengo. Eu estava muito bem no Fluminense, tinha jogado um jogo que não precisava ter jogado, o da semifinal da Copa do Brasil. Já vendido, eu joguei com a clavícula quebrada. Tudo por respeito ao Fluminense, por tudo que tinha dado a mim e à minha família. Jamais seria a intenção de voltar para um rival, mas era o que eu tinha.


E, se eu tenho um arrependimento na carreira, por mais que eu tenha sido campeão e tenha feito gols importantes, eu não gostaria ter feito o que eu fiz. É um dos poucos arrependimentos que tenho.



Desabafo em Volta Redonda, ao fazer gol pelo Flamengo contra o Fluminense


Eu era muito novo, estava chateado porque era um ano que tinha tudo para ser muito proveitoso. Fui para o Benfica, situação boa para todo mundo, tinha a oportunidade de voltar para um time bem certo e brigando pela liderança do campeonato (Flu). Isso não aconteceu por detalhes. Fiquei chateado. Quando fiz o gol (pelo Flamengo), foi um desabafo, mas o torcedor não tinha nada a ver com aquilo. Por isso, falo do arrependimento. As pessoas que mereciam aquilo eram as que estavam na gestão. Não o torcedor, desde quando subi, sempre me apoiou.



Falando de outros clubes que defendeu, o Grêmio mudou o patamar da sua carreira?

O Grêmio foi onde minha carreira sai do mediana para ir para a ponta. Foi o clube onde tive minha projeção de carreira lá em cima, onde me tornei um jogador importante no Brasil. Aquela minha volta para o Grêmio foi importantíssima para minha carreira.



Diego Souza durante a entrevista — Foto: André Durão/GloboEsporte.com




E o Palmeiras, onde foi craque do Brasileiro e estava muito bem?

O Palmeiras foi um meio-termo. Cheguei no Palmeiras e tive uma ascensão. Foi o clube onde estava me começando a me tornar um grande jogador no Brasil, muito bem falado, bem resolvido, mas com a personalidade lá em cima. Naquela época, a rebeldia tomava um pouco de conta do Diego. Foram dois anos maravilhosos os de 2008 e 2009. Fui o craque do Brasileiro, onde não conquistamos o campeonato. Queria ter jogado mais pela seleção brasileira, fiz de tudo para acontecer isso. Hoje posso dizer e não devo nada a ninguém, mas fui convocado mais pela imprensa, naquele momento a imprensa do Brasil pedia minha convocação.


Numa oportunidade tive, mas foi mais um cala-boca. Não foi nada de coração. Acabei tendo meio-tempo em La Paz e depois disso nunca mais. Foi um ano bem complicado. Em 2010, com tudo que joguei e fiz pelo Palmeiras em 2009, acabei sendo criticado pelo nosso torcedor. Joguei 35 jogos daquele Brasileiro, fiz gols decisivos e estava sempre dando cara à tapa. Achei injusto, tanto é que tive reações totalmente equivocadas e acabei querendo sair.



Diego Souza não gostou das críticas que recebeu no Palmeiras — Foto: André Durão/GloboEsporte.com



Passagens curtas por Atlético e Cruzeiro (entre estas, o sucesso no Vasco)

Por mais que tenha sido pouco tempo, são totalmente diferentes. No Atlético, cheguei e estava há dois meses de férias, porque saí do Palmeiras e teve a parada da Copa do Mundo (2010). Aí você pega um Brasileiro já de cara, e o Atlético na zona de rebaixamento. Demorei a engrenar, mas no final do ano engrenei bem, fiz gols. O final do ano foi bem tranquilo e no início do ano (2011) houve coisas que aconteceram que, como eu disse, se não estiver feliz, eu não consigo render. Tive meu início no Galo, terminei o ano bem, algumas conversas e coisas que te fazem parar pra pensar, e e eu não concordava.


Acabei que, sem jogar, tive a felicidade de sair e fazer uma escolha por acreditar no meu potencial. Não feliz de sair do Atlético, mas saio de lá e vou para o Vasco. E o Vasco numa fase ruim. Consegui agregar, ser campeão, fazer bons jogos e voltar à seleção brasileira. Quando meu coração diz algo, vou atrás e vou com tudo. Escuto muito o meu interior e penso em algumas coisas.



Diego Souza fez muito sucesso no Vasco — Foto: Gustavo Rotstein / globoesporte.com


No Cruzeiro, foi diferente. Eu cheguei, estava tudo indo bem, e tive uma proposta no meio do ano que foi boa para todo mundo. Acabei sendo campeão brasileiro, poderia ter ficado até o final, mas era uma situação importante para minha família e acabei indo.



Diego elege Sport como o clube com o qual mais se identificou

Hoje é o Sport. É o time onde mais joguei, onde mais fiquei, onde a família ficou muito bem adaptada. Onde consegui desfrutar de jogar futebol.



Estrear contra o Fluminense mexe com você?

Sou grato ao Fluminense por tudo que tenho hoje e pela oportunidade que me deu, mas o único arrependimento que tenho é esse de ter voltado para um rival no início da minha carreira. Hoje não tem isso, se tiver oportunidade de estrear no domingo, vou dar o meu melhor, fazer gols e comemorar. Isso é que mais quero fazer pra frente: comemorar gols.



Diego Souza deu entrevista perto de uma bandeira do Fluminense, na Praia da Barra — Foto: André Durão/GloboEsporte.com



Costuma fazer gols contra o Fluminense, né? Já foram três.


Já fiz alguns gols, mas joguei muitas vezes contra o Fluminense, mas não tem nada de especial. É um jogo importante, um clássico onde a gente precisa fazer bom jogo e da vitória para chegar nas finais do Carioca.



E sobre Ganso: quais são as grandes características dele?


Qualidade técnica. Tecnicamente é diferenciadíssimo. Técnica muito apurada e a inteligência de raciocínio. Ele pensa muito à frente. Fluminense se movimenta muito, e isso acaba dando espaço. Se deixar o Ganso próximo da área, ele tem a facilidade de deixar o atacante em condições de fazer o gol e causar bastante danos ao adversário.



Tem como anular Ganso?


Tem que anular para ganhar. Não é que dá. Tem que anular. No setor onde ele cair, quem estiver próximo tem que estar ligado para marcar forte.



Você falou no São Paulo que pensava em se aposentar em 2019

Me vejo jogando até 36 ou 37 anos (ele faz 34 em julho). Naquele momento, o tempo de contrato que tinha no São Paulo era o que imaginava para jogar. Aqui no Brasil temos muitos jogos, muitas viagens e muitas concentrações. Isso é desgastante. Tenho dois filhos. Davi vai fazer 11, e a Manuela fez 7. No início da carreira, perdi dois aniversários do Davi. E dois da Manuela também. Você acaba deixando passar algumas coisas importantes. Claro que não dá para ter tudo, mas não dá para pensar em jogar até os 40. Esquece. Vou procurar aproveitar meus pais também.


Por mais que meu pai esteja muito junto, não é a mesma coisa que pegar meu pai e minha mãe para passear e ter mais tempo. De eles estarem mais próximos dos netos. É trabalhar muito para depois dos 37 anos, eu poder descansar e curtir o que eu gosto.


Mas não é hora de falar de aposentadoria. Ansioso para ouvir o "Ninguém Cala", que você puxou durante a apresentação, neste domingo, contra o Fluminense?


A expectativa da estreia é muito boa. Quero jogar bem, ajudar, quem sabe ganhar o jogo e escutar. Porque a gente vai escutar mesmo mais no final do jogo. Você com o resultado favorável, aquela parte final do jogo e com todo o nosso torcedor estando feliz, aí ele não para de cantar.




Diego Souza conversou por muito tempo com o GloboEsporte.com — Foto: André Durão/GloboEsporte.com



Fonte: GE/Por Fred Gomes, Richard Souza e Ronald Lincoln — Rio de Janeiro

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