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sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Metas, números, troca e exigência: CEO Jorge Braga completa seis meses no Botafogo


Com 150 dias completados no Alvinegro, dirigente é marcado por se impor e cobrar da equipe, mas troca é considerada recíproca e valiosa para os dois lados; L! traça perfil





Jorge Braga é o CEO do Botafogo (Foto: Vítor Silva/Botafogo)



Jorge Braga é um cara que não gosta de holofotes. No dia a dia, costuma dizer que ele, em si, não possui importância, mas sim a função que exerce: o economista é, há exatos seis meses, completados nesta sexta-feira, o CEO do Botafogo, cargo que assumiu no dia 17 de março. É justo que a posição atraia tanta atenção, já que ele é um dos responsáveis para tentar reerguer o clube.


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Trabalhando perto de 15 horas por dia praticamente todos os dias nos últimos seis meses, Jorge Braga tem um claro perfil de liderança nos bastidores do Botafogo. O CEO foi uma das principais promessas da campanha eleitoral de Durcesio Mello. Internamente, ele marca presença.


Criado no mundo dos negócios e da economia, Jorge é "viciado" em números. O CEO traça metas a curto, médio e longo prazo e possui reuniões diárias com funcionários onde fala sobre números e metas que devem ser alcançadas em certo período de tempo. Ele cobra, mas também sabe ouvir. Afinal de contas, sabe que depende que toda a engrenagem coopere para o Botafogo "retornar".

– Do ponto de vista pessoal eu me sinto escolhido, como dizem aqui no Botafogo. Tenho conseguido viver fortes emoções, meu maior desafio, tanto pessoal quanto emocionalmente, foi muito gratificante essa viagem dos últimos seis meses. Sinceramente, parece que foi bem mais, parece que estou há muito mais tempo no Botafogo - afirmou Jorge sobre os seis meses de Botafogo, em entrevista exclusiva ao LANCE!.


TRABALHO

Quando chegou, o CEO passou algumas semanas apenas observando, lendo contratos e conversando com pessoas para se inteirar no ambiente do Botafogo. Sem ser criado no futebol, Jorge quis se adequar à realidade. Logo depois disto, divulgou uma nota afirmando que o clube "já estaria falido se fosse uma empresa".

O tempo é inimigo, como Jorge costuma dizer. O Botafogo tem uma dívida que chega perto de R$ 1 bilhão e a luta é para sobreviver, ainda mais se tratando de que o clube está na Série B do Brasileirão e as receitas são reduzidas. O CEO, contudo, espera que o trabalho fique bem além do que uma possível recuperação, mas sim por criar um legado.



– Meu maior desafio é mudar a cultura. Existem transformações lentas e rápidas, estamos tentando fazer uma disruptiva, porque o Botafogo não tem cinco ou seis anos para se transformar. Nosso desafio é em questão de meses. Eu tenho tido muito apoio do Durcesio (presidente), o grupo de Conselheiros é muito bom, jurídico, financeiro... Você não consegue fazer mudança sem as pessoas, por melhores que sejam as ferramentas. As pessoas no Botafogo são uma grata surpresa, todos muito comprometidos e disponíveis. Minha missão é mudar a cultura e colocar a barra mais alta - explicou.

– Times de alta gestão têm um perfil diferente: eles gostam de ser desafiados, falam de metas e recursos, se sentem estimulados com o que fazem e a gestão desse grupo é uma combinação de autonomia e muita troca. Nenhum atleta de alta performance evolui sem um treinador exigente. O Botafogo precisa entrar em forma muito rapidamente e eu sou um treinador exigente, mas escuto e entendo o limite para qualquer processo de transformação. Nem todo mundo se adapta, mudar cultura é isso - completou o CEO.

Jorge é exigente. Se um funcionário, por exemplo, pede o prazo de uma semana para entregar um projeto, o CEO aceitará e dará todo o espaço disponível, mas vai cobrar e pedir por um bom trabalho depois desses sete dias. E isto talvez tenha sido algo diferente no dia a dia do clube nos primeiros meses do dirigente no Estádio Nilton Santos.




Eduardo Freeland é diretor de futebol (Reprodução / BotafogoTV)


RELAÇÃO COM O FUTEBOL

Jorge e Eduardo Freeland, diretor de futebol do Botafogo, não se entenderam de "forma completa" nas primeiras semanas do CEO do clube, como no caso de venda de Paulo Victor ao Internacional. Foi um choque de ideias entre um dirigente que veio do mundo da economia e outro que sempre viveu focado nas quatro linhas.

Tudo isso são águas passadas, garante Jorge. O CEO garante que está na mesma página no sentido de exigir, trocar informações e obter resultados com o departamento de futebol.

– Tem sido uma oportunidade única, é uma gratificação profissional enorme. Tenho conseguido criar relações pessoais com os meus diretos que duram a vida inteira, assim como aconteceu em outros lugares que trabalhei. Júlio (Gracco, chefe de comunicação) é um exemplo disso, tenho com o financeiro e também desenvolvi isso com o (Eduardo) Freeland. Ele entendeu que o futebol também será cobrado. É o nosso principal produto, mas também será cobrado para fazer melhor com menos - contou.

A prioridade do CEO é essa: render mais gastando uma quantia menor. O Alvinegro conseguiu, com participação de todo o departamento de futebol, diminuir o valor da folha salarial em relação à última temporada.


JORGE BRAGA POR LÊNIN FRANCO

Uma das principais contratações do Botafogo para a temporada 2021 veio para fora de campo. Após anos dedicados ao Bahia, Lênin Franco assumiu como diretor de negócios do clube há pouco menos de dois meses. Em pouco tempo, novos resultados começam a aparecer.

Um dos responsáveis por trazer Lênin ao Alvinegro foi justamente Jorge Braga. O LANCE! pediu para o diretor de negócios do clube falar sobre a relação que possui com o CEO:



Jorge com Lênin Franco [meio] e Durcesio (Foto: Vitor Silva/Botafogo)

"Tenho um pouco mais de 45 dias no Botafogo, mas a minha relação com ele é muito tranquila. Nos falamos quase todos os dias, ou presencialmente ou por telefone. Temos reuniões diárias, onde estabelecemos as metas que vamos tomar no dia a dia. Além disso tem as pautas específicas da minha área, tenho total liberdade para trabalhar. Ele me deu toda a liberdade para eu implementar o que eu acredito e conto com o apoio dele, estamos bem alinhados na forma de pensar.

Também estou aqui pra aprender. Mesmo com o meu tempo no futebol, nós temos que estar abertos a aprender todos os dias. Ele vem de um mercado que eu nunca trabalhei, então aprendo demais, faço questão de entender bem como funcionam determinados processos que eu nunca tinha vivenciado, e isso tem me ajudado em todos os aspetos como profissional.

Tivemos uma sinergia muito bacana desde a primeira conversa, ainda quando fiz a entrevista com ele. Nosso jeito de trabalhar e pensar o clube bateu. Temos uma abertura bacana no sentido pessoal, não só de trabalho, mas de projetos de família, coisas que temos em comum. Nas reuniões, ele é um cara que sempre se posiciona, além do perfil que possui de poder contribuir de forma pessoal e profissional, passa a visão a respeito de cada aspecto que vem para o clube. É uma pessoa que se a gente estiver disponível ele consegue ser tão disponível quanto, há sempre uma troca. Mesmo com toda a sua experiência, está aberto a ouvir conselhos, opiniões das pessoas que estão no entorno. Não impõe as coisas, é sempre debatido. Quando temos alguma divergência de ideia ele está aberto a ser convencido e cede quando vê que a outra parte tem razão. Ele cobra bastante, é muito intenso e atento a todos os números."


​E OS PRÓXIMOS SEIS MESES?

​Longe de prometer ou garantir feitos, Jorge prevê que o Botafogo continue no caminho que foi desenvolvido nesses primeiros seis meses para o próximo semestre. O CEO faz questão de ressaltar que contou com várias pessoas no clube para criar planos, desenvolver metas e buscar uma nova rota para a reconstrução financeira.

– Falo muito pouco de futuro. Os torcedores se acostumaram a ouvir muita promessa, sou um cara que falo do que eu fiz. O que enxergo daqui a seis meses é a continuidade de tudo que tem sido feito: parar o sangramento de dinheiro no caixa, aumentar a eficiência entre despesas e receitas, tornar o clube superavitário, ser mais eficiente, especialmente na valorização de atletas, ter um processo de base muito melhor, aproveitar melhor os recursos do clube, as sedes, o Nilton Santos, o CT e dar continuidade no plano de enfrentar a dívida e investir no futebol, que é o conceito da S/A. A nova lei da SAF vai separar a política do clube da gestão profissional com controles e transparência. Acho que essa lei vai mudar muito o mercado brasileiro, vai dar esse último empurrão para os clubes que querem se profissionalizar - afirmou.

"Cultura" foi um ponto tocado com frequência por Jorge durante toda a entrevista. O economista afirma que o Botafogo precisa criar uma nova prática para deixar antigas realidades para trás.



Jorge Braga é o CEO do Botafogo (Foto: Vítor Silva/Botafogo)

– O Botafogo não tem mais tempo, é tudo para ontem. Essa mudança de cultura é entender que a tua missão é mais importante que você. O legado Botafogo é mais importante que as nossas bateções de cabeça individuais. Tem uma coisa maior e mais importante que a gente, o Botafogo. É a cultura de que decisões em grupos são mais difíceis, são pessoas com pensamentos diferentes. Quando um só decide, ele faz o que quiser. Em grupo, a coisa é mais doída mas geralmente as decisões são melhores porque você olha todos os ângulos do problema. É isso que estamos criando no Botafogo, responsabilidade, transparência e dedicação - declarou.

– Não tem vaca sagrada. Tem scouting, ciência, negociação de valores. O Rafael foi isso, nós negociamos cada centavo dele, ele abriu mão de uma bolada porque é apaixonado pelo clube. É tudo melhor quando você briga como se fosse teu. O meu objetivo é que essa mudança crie algo para os próximos anos, com os próximos presidentes, próximos CEOs... Do mesmo jeito que a cultura antiga se perpetuou, comprar jogador sem saber como pagar, pedir dinheiro para alguém... Estamos tentando uma cultura de responsabilidade e ciência. Ela exige mais da gente, mas os resultados são melhores - completou.

Jorge definiu que esses seis meses pareceram "anos". O CEO frisa que o trabalho ainda está longe de ter um desfecho e muito menos final feliz. O economista fez questão de dizer que o Alvinegro montou um time de confiança fora das quatro linhas para guiar essa reconstrução. Resta aguardar como serão os próximos capítulos.



Fonte: LANCE/Sergio Santana/Rio de Janeiro (RJ)

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