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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

The Botafogo way: John Textor explica como identidade que quer ver no time influencia gestão do futebol



Em entrevista exclusiva ao ge, empresário americano justifica demissão de Enderson Moreira, analisa mudanças no departamento e diz que já tem um estilo de jogo em mente





John Textor expõe sua visão de futebol e o que espera para os próximos anos do Botafogo (https://ge.globo.com/video/john-textor-expoe-sua-visao-de-futebol-e-o-que-espera-para-os-proximos-anos-do-botafogo-10297733.ghtml)



John Textor não é um homem do futebol, a considerar que a maior parte de sua trajetória profissional passa por companhias de mídia e tecnologia. Ou melhor: ele não era um homem do futebol. Com o verbo no passado.


Hoje proprietário de três clubes – Botafogo, Crystal Palace e Molenbeek –, o empresário americano assiste a 250 jogos por ano, estuda o esporte e tem noção clara do que pretende ver em campo nesses times.


De acordo com Textor, "the Botafogo way" (o estilo botafoguense, em tradução literal, menos charmosa do que a versão em inglês) passará por zagueiros habilidosos e com sangue frio, que saibam dominar a bola e distribuir jogadas, mesmo sob pressão. Velocidade em todas as posições, sobretudo nas laterais. Deve haver prioridade pela posse da bola, mesmo quando pressionados por rivais quando o time estiver no ataque.



– Quero que fique claro daqui a três ou cinco anos que existe um estilo Botafogo. Quero que as pessoas nos vejam jogar da base até o profissional e reconheçam o que nós estamos tentando fazer.





John Textor no estádio Nilton Santos — Foto: Vitor Silva/Botafogo


+ Textor rompe contratos de patrocínio que acredita "dificultar apresentação global" do Botafogo


As diretrizes foram explicadas pelo próprio empresário ao ge, em conversa de 40 minutos gravada no sábado. Ele estava ligeiramente incomodado com versões conflitantes que chegaram à opinião pública no decorrer da semana, em relação a decisões que tomou no departamento de futebol, entre demissões e trocas de profissionais. E não foram poucas.



Enderson Moreira, técnico que conquistou a Série B no ano passado, foi demitido na sexta-feira. Na direção do futebol, André Mazzuco foi contratado para ocupar a função de Eduardo Freeland, que por sua vez volta a trabalhar com a base. Alessandro Brito chega para chefiar a análise de mercado e desempenho, oriundo do Atlético-MG. Raphael Rezende, antes na Globo, integra a área de scouting (olheiros).


Por que Enderson foi dispensado? O empresário demonstra gratidão ao técnico por ter levado o clube de volta à primeira divisão, mas afirma que não conseguiu, depois de assistir às partidas alvinegras na temporada passada e na atual, identificar um padrão de jogo para o Botafogo.


– Qual foi o nosso estilo de jogo? As responsabilidades dos jogadores... Estava claro o que eles tentavam fazer? Qual era a identidade? Você pode falhar no que está tentando fazer, mas você pode ver o que está sendo tentado. E eu tive dificuldade de ver o estilo Botafogo – explica Textor.



Entenda por que John Textor demitiu Enderson Moreira do Botafogo (https://ge.globo.com/video/entenda-por-que-john-textor-demitiu-enderson-moreira-do-botafogo-10297731.ghtml)



A busca por uma comissão técnica que consiga implementar o estilo botafoguense está em curso. O americano confirma que Luís Castro, técnico português que passou quase uma década nas categorias de base do Porto, é um dos profissionais com os quais há negociação.


Outros treinadores vêm sendo procurados. Houve duas conversas no Brasil e outras tantas em Portugal, onde Textor acredita que há melhores condições para buscar profissionais para a comissão técnica.


Não apenas pela língua, que não chega a ser o critério mais importante desse filtro, mas pelo fato de que o país se tornou uma "ponte", uma "parada intelectual", entre Brasil e Europa para jogadores brasileiros.


– Há uma conexão maior entre Portugal e Brasil. Um desejo, uma inclinação das pessoas de Portugal de olhar para o Brasil e tentar entender o jogo no Brasil, os jogadores do Brasil. Eu acho que essa é uma razão pela qual Portugal se tornou uma ponte tão eficiente entre o estilo de jogo, a criatividade, a capacidade técnica dos jogadores do Brasil e a Europa. É quase um trampolim para os jogadores do Brasil – diz Textor.



Textor confirma contato com Luís Castro e conta qual perfil busca para a comissão técnica (https://ge.globo.com/video/textor-confirma-contato-com-luis-castro-e-conta-qual-perfil-busca-para-a-comissao-tecnica-10297734.ghtml)



As referências de futebol estão por toda a Europa, mas há uma lembrança em particular que Textor gosta de citar. Na vitória do Bayern de Munique sobre o Benfica, por 4 a 0, na fase de grupos da Liga dos Campeões desta temporada, ele ficou encantado com o poder "desmoralizador" do estilo de jogo alemão.


Quando ainda negociava para comprar parte do Benfica, conversa que não se concretizou, o empresário estava no Estádio da Luz, em Lisboa, e gostou de como o Bayern reteve a bola até cansar os adversários. Das arquibancadas, ele percebeu que torcedores mudavam de sentimento conforme o tempo passava, ao notar que a bola não era dominada pelo Benfica. Eles trocaram a noção "nós estamos nesse jogo" por "nós nunca estivemos nesse jogo".


– Sempre que o Benfica estava pronto para o desafio, com seus grandes atletas e sua incrível ambição, o Bayern de Munique desmoralizava a pressão tocando a bola. E aí a pressão cansava, a pressão parava. E aí o Bayern de Munique só espera, espera, espera e te destrói.


A considerar que o discurso de Textor está alinhado com práticas em mercados mais maduros, uma pergunta é inevitável, de certa forma até um clichê: seria o americano um fã de Moneyball?



Essa palavra – que virou título de livro e até filme protagonizado por Brad Pitt – remete a Billy Beane, executivo que revolucionou a gestão do Oakland Athletics na década de 1990. A inovação dele foi substituir o palpite pelo uso de dados ao contratar jogadores de beisebol.


E a resposta é... não. Dados precisam ser levados em consideração para tomar decisões ligadas a futebol, segundo o empresário. Mas essa modalidade não deve ser administrada com uma visão puramente científica, e sim por meio da combinação entre "ciência e arte".


Sob algumas críticas por causa das opções que fez para o departamento de futebol, Textor sabe que receberá cobranças da torcida – mais do que qualquer profissional que ele acaba de contratar ou que ainda contratará.


– No fim do dia, eu sou a pessoa que fez a promessa aos fãs de que tentaria tudo o que for imaginável para vencer o Flamengo no campeonato. Eu sou a pessoa que será jogada fora se, depois de alguns anos, nós não competirmos por títulos – diz o empresário ao ge.


Assista à entrevista na íntegra:




Textor explica demissão de Enderson, busca por português e padrão que quer para o Botafogo (https://ge.globo.com/video/textor-explica-demissao-de-enderson-busca-por-portugues-e-padrao-que-quer-para-o-botafogo-10297720.ghtml)



@rodrigocapelo


Fonte: GE/Por Rodrigo Capelo — Barcelona, Espanha

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