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quinta-feira, 21 de abril de 2022

Largura máxima e quadrado no meio-campo: as primeiras ideias táticas de Luís Castro no Botafogo



Em três jogos, treinador português já mostra os primeiros conceitos que quer ver na equipe. Atuação contra o Ceilândia foi a melhor até agora.




São apenas três jogos, mas já é possível ver as primeiras ideias que Luís Castro quer colocar no time do Botafogo. A vitória de 3 a 0 sobre o Ceilândia, pela Copa do Brasil, foi a melhor atuação até aqui. Serve como um exemplo dos conceitos da comissão técnica portuguesa e como ela se conecta com as contratações feitas.


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Luis Castro, técnico do Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo



Os três gols nasceram de formas diferentes. Dois deles, de Kanu, vieram em bolas paradas. O de Piazon foi tecido numa jogada rápida, de contra-ataque. O Botafogo, tentou do início até o fim, controlar a partida pela posse de bola. Jogou no campo adversário e trocava passes até achar espaço.


Nesse momento com a bola, Luís Castro disse que o time teve duas principais ideias: uma foi a largura máxima com Saravia e Diego, e a outra foi um quadrado no meio-campo, com Sauer junto dos volantes. Vamos entender como aconteceu:


Largura máxima ajuda a manter a posse de bola com o Bota

Quando tinha a bola e entrava no chamado momento ofensivo, o Botafogo formava uma linha de três. Daniel Borges, recuava para o mesmo setor de Kanu e Sampaio, e como jogava na lateral esquerda, deixava o espaço para Diego Gonçalves, que ficava bem aberto, rente à linha de fundo. No outro lado, Saravia fazia o mesmo, como você vê na imagem.




Saída de três com Daniel Borges junto aos zagueiros — Foto: Reprodução



No segundo tempo, Victor Sá entrou no lugar de Diego e fez a mesma coisa: esperava a bola lá no alto. Esse conceito não depende de titulares ou reservas. É uma forma de jogo que Luís coloca no time inteiro. Qual é o motivo dele querer isso? São ao menos dois: com o campo aberto, o Botafogo consegue rodar a bola de um lado ao outro e fica mais tempo com a bola no pé. Ajuda o time a controlar, cadenciar quando não dá pra atacar.




Botafogo alargou muito o campo contra o Ceilândia — Foto: Reprodução


Outro motivo é para potencializar o drible. Victor e Diego são dentros. Se ficam abertos na esquerda, eles recebem a bola com o pé bom virado para dentro do campo. Isso torna o drible e a condução da bola muito mais simples que o domínio (pra dominar com a palma do pé, eles precisam virar o jogo). Agora as coisas se ligam: como esperam o tempo todo e podem driblar, a largura máxima dá ao Botafogo uma opção para acelerar e contra-atacar com eficiência. Não à toa, Sauer fez várias inversões para aquele lado.


Um quadrado de criação e movimentação no meio-campo

Até agora, falamos sobre metade do time. Matheus Nascimento (e depois Erison) jogaram mais próximos do gol, como um nove fixo. Resta quatro jogadores. Mora aí outra ideia apontada pelo treinador: a formação de um quadrado no meio para tabelar, criar e chegar no gol. No primeiro tempo, Tchê Tchê e Patrick se aproximavam de Del Piage e Gustavo Sauer, o estreante da noite. Parece aquele quadrado clássico, com dois meias e dois volantes.





Quadrado aproximava quem tinha maior capacidade de pensar o jogo — Foto: Reproduçào


No segundo tempo foi a mesma coisa. Piazon mais próximo de Tchê Tchê, Sauer e Del Piage. Olha a mesma imagem acima, só que agora com todos os conceito acontecendo ao mesmo tempo: a saída de três lá atrás, o campo bem esticado e os mais criativos juntos, próximos, com Matheus Nascimento tentando fazer a defesa do Ceilândia ir para trás.




Todos os conceitos numa mesma imagem — Foto: Reprodução


Agora vamos entender a intenção do treinador. Por que um quadrado? Primeiro de tudo, as coisas se conectam. A saída de três fazia os dois volantes ficarem mais à frente, e com o campo bem alargado, Del Piage e Sauer não precisavam ficar na frente. A estrutura tática do Botafogo criava espaço pelo miolo do campo. A marcação subia e dava espaço nas costas, justamente onde o quadrado está na imagem acima.


Com esse espaço, o quadrado trocava de posição. Criava jogadas. Um pegava na bola e os outro aproximavam. Já outros faziam aquele movimento de atacar o espaço e dar uma linha de passe na frente da bola - Del Piage, ainda chamado de Romildo, foi elogiado por Luís Castro contra o Ceará.




As trocas posicionais do Botafogo — Foto: Reprodução



No ataque, trocas posicionais e chegada na área

Esse mecanismo é chamado de trocas posicionais. Pode chamar de movimentação, mesmo. Ou um termo muito usado aqui no Brasil: "liberdade para jogar". Sauer foi o homem da partida e jogou mais "solto", outro termo usado. Ele apenas trocava de posição dentro desse espaço pelo meio. Se pegava na bola, Patrick ultrapassava e Romildo (Del Piage) aproximava. Ou vice-versa.


A ideia era criar bagunça, caos...no adversário! Porque se um aproxima, leva a marcação e abre espaço para quem avança. As trocas posicionais têm como objetivo bagunçar a defesa adversária e tornar a chegada na área mais forte. Quando entrava na parte de finalizar a jogada, o Botafogo chegava com Saraiva e Diego/Victor não mais abertos, mas próximos do gol. E um ou dois do quadrado chegando também.


Na imagem, acontece uma troca posicional entre Piazon e Del Piage: um aproximou, o outro avançou. A marcação ficou perdida. Os alas chegam na área junto ao centroavante. E aí mora outro ponto que você vai ver muito com Luís Castro: a intenção de fazer gols de média distância. Sauer não chegava tanto, ficava mais atrás nesse espaço. Podia pegar um rebote assim.





Chegada do Botafogo na área: entrada com ao menos quatro jogadores — Foto: Reprodução



Esquema tático foi o 4-2-3-1

A riqueza de ideias e a execução que fica cada vez melhor com Luís Castro não pode ser definida apenas num esquema tático. O Botafogo se postou num 4-2-3-1. Não jogou com três zagueiros, mas sim com quatro defensores e uma trinca de meias, com Sauer na direita, Del Piage por dentro e Diego na esquerda.




Esquema tático do Botafogo foi um 4-2-3-1: na imagem, Tchê Tchê sai para caçar um adversário — Foto: Reprodução


Estivemos a jogar num 4-2-3-1 e, no momento ofensivo dávamos largura máxima com Saravia e Diego, e depois Victor na segunda parte. Nesse movimento, o Sauer vinha para dentro, ele vinha a fazer a posição 10 nas costas do nosso 9, e ficava com os volantes a fazer um quadrado com os dois homens da frente. Trabalhamos em 3-2-5, portanto o Sauer era um jogador que vinha defender com 4-2-3-1 nesses três do lado direito, e depois partíamos para o ataque e vinha a se juntar
— Luís Castro explica o Botafogo


É tudo muito inicial ainda. São três jogos. Nos três, perdendo ou ganhando, Luís Castro não deixa de lado suas ideias. Um time com largura máxima, a saída de três bem formada e um quadrado de criatividade para atender o desejo de John Textor e a torcida do Fogão: uma equipe ofensiva e controladora.




Fonte: GE/Por Leonardo Miranda

Jornalista, formado em análise de desempenho pela CBF e especialista em tática e estudo do futebol

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