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sexta-feira, 20 de maio de 2022

Antes do Botafogo, Victor Sá viveu desilusão no Brasil, aventura na Áustria e teve ajuda de Casemiro


No caminho até chegar ao clube carioca, atacante quase desistiu da carreira algumas vezes, mas se encontrou depois de passar até pela quinta divisão austríaca



“Quem vê hoje, as coisas dando certo, não tem ideia das dificuldades”. É comum ouvir isso, ou alguma adaptação, no meio do futebol brasileiro, cheio de jovens que fizeram do esporte salvação para deixar uma vida de privações, e necessidades nos piores cenários. Nesse caso, a frase é de Victor Sá, destaque do Botafogo aos 28 anos. Um momento de estrelato que destoa de outros períodos duros, que quase fizeram o atacante desistir da carreira.


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Ele contou ao ge a história de vida, que começou em São José dos Campos, passou pela Áustria quase que por golpe de sorte e, depois disso, rodou o mundo com o sucesso que mudou a vida do atleta e de todos em volta, família e outras pessoas queridas. Trajetória que o atleta espera completar com o reconhecimento no país natal, onde teve portas fechadas no início da carreira.


Nessa entrevista, Victor Sá falou sobre o passado, mas também sobre o presente e o futuro. Explicou os motivos para voltar ao Brasil, escolher o Botafogo e projetou os próximos passos do novo projeto que pode devolver ao clube o protagonismo no futebol nacional. O atacante também lembrou algumas curiosidades na caminhada, como o tempo em que morou na casa de Casemiro, volante da Seleção.





Victor Sá teve um caminho tortuoso antes de emplacar na Europa e vir ao Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo


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ge: Você já jogou na Europa, passou pelo futebol milionário do Oriente Médio e hoje é titular de um dos times que é destaque no futebol brasileiro. Mas essa carreira positiva veio depois de muito sacrifício. Conta um pouco da sua trajetória.


Victor Sá: O início no Palmeiras não foi legal. Comecei a ser emprestado. Joguei A3, joguei a segunda divisão do Campeonato Paulista também. Essa foi a maior dificuldade, foi quando pensei seriamente em parar. Porque era muita dificuldade. Morar debaixo de alojamento, comer arroz com salsicha, que era o que tinha.


Mas, ao mesmo tempo, são os momentos em que os atletas são mais unidos. Você vira uma família ali dentro, no meio da dificuldade. Um dá força ao outro. Pensei muito em desistir, até surgir esse teste na Áustria.


Foi nesse início no Brasil que você conheceu o Casemiro?

Ele sempre foi muito próximo do meu irmão. Quando assinei na base do Palmeiras, ele me acolheu no apartamento dele, estava no profissional do São Paulo. Sempre me ajudou demais. É um exemplo. Não conquistou tudo o que conquistou à toa. Ajudou muito a mim e a minha família. Sempre me dá conselhos também, até de postura como atleta, dentro e fora de campo.


E o caminho na Áustria?

As coisas começaram a andar, mas lá também tive muitas dificuldades. Eu e minha esposa vivíamos com muito pouco, porque eu tentava mandar quase tudo para a minha família. Já fui com dúvidas, porque foi um período de testes na Áustria. Apostei lá, porque ou era isso ou teria que abandonar a carreira, procurar outro emprego. Fui para Áustria para ver o que dava.


Fui bem no teste, as coisas começaram a caminhar. O primeiro ano, principalmente, foi muito difícil. Se não fosse minha esposa, meu irmão, minha mãe... Não fosse a minha família, eu teria voltado. Foi bem complicado. Longe do meu país, longe de tudo. Cansei de falar para a minha esposa que queria voltar, e ela me segurou. Tinham fé que a coisa iria mudar, e mudou.


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Aos 17 min do 1º tempo - gol de dentro da área de Victor Sá do Botafogo contra o Ceará (https://ge.globo.com/futebol/video/aos-17-min-do-1o-tempo-gol-de-dentro-da-area-de-victor-sa-do-botafogo-contra-o-ceara-10491931.ghtml)



Qual foi a maior dificuldade por lá?

Cheguei e o treinador não gostava muito de mim, me passou para o time B, que disputava a quinta divisão. E era um esquema quase de futebol amador, com pessoas que tinham outros empregos, alguns acima do peso, bebia uma cervejinha antes do jogo... (risos).


Eu destoava ali, fazia dois, três gols por jogo. Chegou um momento em que o cara não conseguiu me manter no time B. Subi para o time principal, estreei fazendo gol e as coisas foram acontecendo.


A partir daí, a caminhada foi de mais alegrias...


Evoluí demais como atleta e como pessoa nesses países. Aprendi a absorver a cultura deles. Hoje falo inglês, falo alemão. Aprendi muita coisa. Como jogador também, cresci técnica, física e taticamente.


Da Série A3 de São Paulo, passando por Campeonato Alemão, até chegar ao Brasileirão — Foto: Vitor Silva/Botafogo


Voltando lá para aquele início no Primeira Camisa, quantos garotos daquela geração conseguiram chegar onde você e o Daniel chegaram, por exemplo?


Poder reencontrar o Daniel é algo que eu nunca imaginei. A gente se distanciou, um longe do outro. Eu acompanhava de lá, imagino que ele acompanhava daqui também. Quando surgiu a chance, pensei: "Mundo do futebol é muito pequeno mesmo".


É um orgulho para nós, porque conseguimos, vencemos. Depois de muita dificuldade. De cabeça, só lembro do Daniel, além de mim, de passar por todas essas etapas. No futebol, não basta ser apenas um bom jogador. Tem a parte técnica, mas há muitas outras etapas. Eu abdiquei de muita coisa na minha vida para estar aqui hoje. Quem vê hoje, as coisas dando certo, não tem ideia das dificuldades.


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Victor Sá e Daniel Borges no Primeira Camisa — Foto: Arquivo Pessoal



Como foi essa primeira conversa com o Daniel, quando surgiu a chance de voltar ao Brasil?


Eu não estava com o telefone dele, procurei um amigo em comum. Perguntei da cidade, do clube... Só que mandei mensagem e ele demorou mais de um dia para responder. Já pensei: "Daniel deve estar uma mala do caramba" (risos). Ele explicou que não estava pegando muito o telefone e conversamos de boa. Falou da cidade, os caminhos para o clube, CT, estádio etc. Como seria viver no Rio de Janeiro.


Lembro bastante que ele falou que minha esposa iria amar o Rio, e acertou na mosca. Ele foi uma peça muito importante, porque já me apresentou a essa família Botafogo e me deixou muito à vontade.


Teve outras oportunidades de voltar ao Brasil antes do Botafogo?


Fui procurado quando estava na Alemanha, quando estava nos Emirados também. Mas o projeto do Botafogo me seduziu, me identifiquei muito. Lembro quando o Mazzuco me ligou pela primeira vez, eu estava com a minha esposa. E nos cativou muito tudo o que ele passou do clube. Hoje, já dá para ver que foi a escolha certa.


Nunca imaginei voltar para o Brasil, não estava nos meus planos. Tanto que fui para os Emirados, porque tinha o plano de continuar fora. Mas as coisas aconteceram e, hoje, estou vivendo esse momento especial. Sou grato ao Botafogo por acreditar no meu trabalho. Espero corresponder com a expectativa da torcida.


É a chance de ser conhecido no seu país?

Com certeza. Eu estava em uma grande liga do futebol europeu, mas nem todo mundo acompanha. Também pensei nisso, em ser conhecido no meu país, jogar no meu país, a família e os amigos me vendo em um estádio lotado. Era um objetivo pessoal. Um deles, e espero conquistar outros.


Voltar a conquistar com o Botafogo, conseguir coisas grandes nesse tempo de contrato. Com tudo o que está acontecendo com o Botafogo, a tendência é crescer cada vez mais. Voltar a competições internacionais, voltar a ganhar títulos... São as ambições de qualquer clube grande.





Até agora, Victor Sá tem um gol e uma assistência em sete jogos pelo Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo



Está curtindo a volta ao Brasil? Como está a adaptação ao Rio?


Só coisas boas. Foram só dois meses, mas muito intensos. Recepção da torcida, adaptação ao futebol brasileiro... Está sendo um início bem marcante, e espero que seja uma trajetória de muitas glórias.


Eu estava sentindo falta do brasileiro, desse calor do Brasil. Essas particularidades, porque estava há mais de um ano sem vir ao meu país. Fora do país, nem todo mundo é receptivo.


E dentro de campo?


Posso falar que a intensidade tem sido um desafio, comparando com os Emirados Árabes. O futebol alemão sempre cobrou bastante isso, mas nos Emirados nem tanto. O Luís Castro cobra bastante esse lado, e eu gosto muito também. É um dos motivos de eu ter escolhido o Botafogo.


Começou como João Victor, virou Victor Sá. Por que?


Na Alemanha, eles não sabem falar o João. Ficavam toda hora no "Joao". O Victor Sá era mais fácil para eles, mudaram e ficou. Nem tive muita escolha (risos). Começaram a chamar já nos treinos, nos jogos... Ou Victor ou até só Sá. E mudou de vez.


Mas lá na sua cidade te chamavam de outra coisa, né? "Sujeira"?

Isso é um apelido que me colocaram lá (risos). O Daniel brinca comigo, que me conheceu quando só me chamavam de Sujeira. "Victor Sá, tá de brincadeira"... Disse para ele ficar quieto, senão os caras iriam pegar no meu pé.


A torcida está muito empolgada, mas esse é um início de trabalho. Como controlar essa expectativa?

É um pouco clichê, mas sempre lembramos do tempo para o projeto. Mas os jogadores sempre fazem de tudo para as coisas acontecerem rápido. A euforia é com a torcida, é um momento empolgante. Aqui dentro, tentamos manter os pés no chão.


O Luís Castro também tem esse papel, sempre apontando erros, mostrando o que precisamos melhorar. Com o tempo, as coisas vão acontecer naturalmente.


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Fonte: GE/Por Bernardo Serrado, Edson Viana e Thayuan Leiras — Rio de Janeiro

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