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terça-feira, 23 de agosto de 2022

A gênese de Júnior Santos com a camisa 37 no Botafogo


Atacante estreia com gol e escolheu o número por causa história bíblica de José do Egito



A caminhada de José Antonio dos Santos Júnior no Botafogo começou com um gol logo na estreia, três dias após a apresentação oficial como reforço do clube. Contratado aos 45 do segundo tempo da segunda janela de transferências, o atacante, encarado pela diretoria como boa oportunidade de mercado, tem visto a carreira profissional se desenrolar com mais velocidade de cinco anos pra cá. Antes disso, foi bem diferente.


O capítulo 37 do livro de Gênesis, na Bíblia, conta o início da história de como José, filho preferido de Jacó, foi vendido pelos irmãos ciumentos como escravo. Ele é negociado para um membro da Guarda do Faraó e se destaca no trabalho, mas é preso injustamente. Na cadeia, interpreta sonhos dos companheiros de cela que se concretizam e faz o mesmo com o faraó, ajudando o Egito a passar por severa estiagem após abundância. Nesse período, os irmãos que o venderam foram pedir ajuda ao faraó. José os ajudou e ainda reencontrou o pai anos após ser dado como morto.


O ensinamento da história fala sobre a importância do perdão, de como o sonho pode ter força para as pessoas, além da relação entre pai e filho. O José, do Botafogo, começou tarde como jogador profissional. Depois de tentar na Bahia, estado que nasceu, havia desistido de continuar no futebol e achava que ser servente de pedreiro perto de Conceição do Jacuípe seria seu destino. Mas na última chance que deu ao futebol, foi retribuído.


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Júnior Santos comemora o primeiro gol pelo Botafogo, marcado na estreia — Foto: Vitor Silva/Botafogo


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- O número 37 é porque me chamo José, José Antônio. Em Gênesis, capítulo 37, tem a história de José, que eu me identifico bastante, é muito bonita. Então uso a camisa 37 por causa disso. José foi vendido pelos seus irmãos e depois virou governador do Egito. Teve muitos momentos de dificuldade, foi preso e acredito que tenha dito: "Eu tive tantos sonhos e Deus não concretizou isso na minha vida". Acredito que ele tenha sentido isso psicologicamente, mas ali no final Deus realizou o sonho dele. Então lembra minha história também... Eu não desisti do futebol e, com 23 anos, Deus realizou meu sonho também.


O sonho realizado começou quando terminava a Segunda Divisão do Campeonato Paulista. Apesar do nome, era a quarta prateleira da competição estadual e destinada a jogadores até 23 anos. Lá, atuando pelo Osvaldo Cruz, Júnior ainda era apelidado de "Berimbau". Magro, foi apenas no último jogo da competição que Edivaldo Ferraz, empresário de jogadores e que estava lá para assistir outro atleta indicado, o viu em campo.


Júnior Berimbau Santos se destacou na partida mesmo com o forte calor em São José dos Campos já que percorria o campo todo e o agente foi conversar com ele. A ideia era colocar o atacante na primeira divisão paulista. Acionou uns contatos e, pela boa relação que tinha com o presidente do Ituano da época e hoje coordenador da Seleção, Juninho Paulista, o colocou para treinar durante a pré-temporada da equipe para o Paulistão de 2018.


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- Combinei com o Juninho de deixar fazer a pré-temporada e no fim a gente voltava a se falar. Se não quisesse, tudo bem. Peguei o Júnior Santos (que ainda era "Berimbau") sem celular e chuteira e seguimos pra Itu. Em Itu, dei uma estrutura pra ele morar e uma condição financeira também. Havia uma rejeição inicial da comissão técnica por ser um atleta amador, que não tinha feito base, mas eu via potencial nele. No último dia da pré-temporada, na data limite para inscrever, conseguimos convencer a diretoria a relacionar ele para os jogos.


Júnior deixou a família na Bahia e foi seguir o sonho em São Paulo. Como disse em entrevista em 2018 (à época na Ponte Preta), o pai havia dito para ele ir em frente porque tinha dois filhos para cuidar e que segurava as pontas por lá. Pouco depois de Júnior chegar ao Ituano, José Antonio, o pai, teve um AVC e perdeu parte da memória. Mesmo assim, o filho jogador de futebol sempre teve a certeza de que o pai veria onde ele chegou quando estivesse melhor da saúde.


Na estreia como titular do Ituano, marcou o gol da vitória diante do Red Bull Brasil. Foram outros três gols naquele Campeonato Paulista, além de uma assistência. As credenciais apresentados no Estadual chamaram atenção de outros times brasileiros e Júnior Santos foi disputar a Série B do Campeonato Brasileiro pela Ponte Preta.


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Júnior Santos e o empresário Edivaldo Ferraz no Ituano — Foto: Arquivo pessoal


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Na Macaca, Júnior Santos também marcou o primeiro gol logo no jogo de estreia. Emprestado pelo Ituano, foram nove gols e quatro assistências. O acesso do time de Campinas não veio, mas o atacante subiu mais uma vez de divisão por mérito dele mesmo. O destaque valeu uma ida ao Fortaleza, a pedido do então técnico do time Rogério Ceni em 2019.


Assim como José do Egito reencontra o pai anos depois de sair de casa, com Júnior também foi mais ou menos assim. De volta para o Nordeste, ele também marcou no primeiro jogo como titular. No Fortaleza, foi campeão da Copa do Nordeste e artilheiro (ao lado de Gilberto do Bahia). E lembra daquela promessa de que o pai veria onde o filho chegou? Então, seu José Antonio estava no Almeidão para ver Júnior ser campeão regional contra o Botafogo-PB e também pôde ver o filho dar uma casa para a família pobre e humilde do interior baiano.


Depois do destaque no primeiro semestre com Rogério Ceni, Júnior foi para o outro lado do mundo atuar no Japão. Por lá, atuou em três times diferentes e só não fez gol na estreia como titular em um deles. Foi na Ásia que José Júnior ficou sabendo da morte de José Antonio.


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Júnior Santos junto com o pai e o irmão após a conquista da Copa do Nordeste — Foto: Reprodução/Instagram


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A volta ao Brasil foi em grande estilo, mas poderia ter sido ainda melhor. O tradicional gol na estreia como titular saiu de novo, só que sem a vitória desta vez, e ele teve boas chances para fazer mais. O sono ainda não está tão adaptado, até porque são 12 horas de diferença, mas a expectativa é que daqui pra frente as coisas caminhem ainda mais rápido. A questão vai ser a concorrência com Tiquinho Soares, Erison e Matheus Nascimento.


- Fico feliz, quem ganha com isso é o Botafogo. O Luís vai ter várias opções ali, fico feliz de ser mais uma opção pra ele. Os jogadores da frente têm muita qualidade, são todos jogadores excelentes, então a qualidade do Botafogo aumenta e o mister vai decidir quem vai jogar. Daqui a pouco regulo o sono. Já estou conseguindo dormir melhor, então essa semana aí vou estar bem melhor, mais adaptado.


A gênese de Júnior Santos no Botafogo é com um gol a menos na meta dos oito que colocou até o fim do ano, até quando vai o contrato de empréstimo com o Sanfrecce Hiroshima. No que depender do foco e da vontade do camisa 37, veremos mais vezes o número do capítulo favorito do livro de Gênesis do atacante nas fotos do time.





Júnior Santos foi titular no primeiro jogo pelo Botafogo apenas três dias depois de ser anunciado — Foto: Vitor Silva/Botafogo

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