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quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Botafogo sai de torneio que nunca priorizou, e reação da torcida prova que a escolha foi correta






Caso confirme o favoritismo criado pela impressionante campanha e termine por levantar o título do Campeonato Brasileiro, o Botafogo transformará a noite de quarta-feira numa lembrança distante. Nenhuma eliminação deve ser celebrada, e ter dois títulos ao alcance das mãos na reta final da temporada daria uma dimensão do que o Botafogo fez nos últimos meses. No entanto, o fato é que o clube deixou bem claras as suas prioridades, privilegiou a competição mais importante, a que deverá deixar um legado esportivo muito mais significativo para o clube. E, também por isso, saiu de uma Copa Sul-Americana em que não chegou a jogar bem, jamais exibiu algo próximo do que faz no Brasileirão.


É até possível discutir uma ou outra opção de escalação. O que não dá para negar é o significado que o título brasileiro terá para o clube e para uma torcida após 28 anos de espera. Mais do que isso, a caminhada no Brasileirão gerou uma aliança entre campo e arquibancada que é rara de se ver, gerou envolvimento. Após temporadas difíceis, ver o Botafogo superar, semana após semana, cada um dos times mais fortes do país nos últimos anos, abrir uma distância imensa na tabela de classificação, tudo isso criou um sentimento de orgulho. Era natural que o clube olhasse a Sul-Americana como uma conquista até viável, mas desde que o preço não fosse atrapalhar a campanha pelo título nacional. Faz todo o sentido.





Lucas Fernandes em Botafogo e Defensa y Justicia, pela Copa Sul-Americana — Foto: Vítor Silva/Botafogo



Curiosamente, Bruno Lage teve na Argentina uma formação mais próxima da base titular do que no jogo de ida, no Rio. Mas se a derrota para o Defensa Y Justicia deixou uma lição, esta foi a demonstração de como o Botafogo é mais forte quando consegue fazer o jogo acontecer dentro de suas características mais marcantes.


Ao poupar Eduardo da viagem e iniciar com Gabriel Pires no banco, Lage optou por Danilo Barbosa e Marlon Freitas juntos no meio-campo. Tche Tche, como no jogo do Nílton Santos, foi fazer o papel do meio-campista que parte da ponta direita. Ele teve boa atuação, primeiro pela direita e depois como meio-campista. No entanto, é um jogador diferente do que Lage vinha buscando naquele setor. A saída de Sauer, cuja passagem pelo alvinegro teve diversas oscilações, terminou por deixar o elenco sem o meia canhoto capaz de partir da ponta e ser um quarto meio-campista, com criatividade e capacidade de dar o último passe. Tche Tche pode ocupar o lado direito, mas tem características diferentes. Segovinha, ao menos até aqui, foi mais efetivo nos jogos em que o Botafogo teve espaços para atacar.


A questão é que o Botafogo não conseguiu impor ao jogo algumas virtudes que o levaram a ser líder disparado do Brasileirão. Primeiro, por não ser capaz de pressionar e retomar rapidamente a bola, algo que tem feito de forma mais frequente desde a mudança de comando. O time não defendia bem. Além disso, o Defensa y Justicia permitia que o time brasileiro ficasse mais tempo com a bola, construísse desde a defesa. Mas a formação de meio-campo escolhida por Lage não fazia o jogo ganhar ritmo, não permitia que a bola chegasse rapidamente ao ataque, traço de identidade mais nítido deste time.


Ao contrário, o Botafogo acumulava perdas de bola e permitia aos donos da casa criar chances num jogo menos controlado. Não era um massacre, o alvinegro não era amassado. O time até teve algumas chances, mas quando Lucas Fernandes empatou, de falta, no último lance da etapa inicial, o resultado ao intervalo era para comemorar.


As intervenções de Bruno Lage não funcionaram como ele esperava no segundo tempo. Primeiro, tirou Di Placido, que falhou no primeiro gol, e lançou Mateo Ponte, que também esteve abaixo do esperado. E surpreendeu ao tirar Marlon Freitas e Danilo Barbosa, deixando o meio-campo com uma formação muito leve: Tche Tche, Gabriel Pires e Lucas Fernandes. Segovinha entrou pelo lado direito e teve dificuldades, fosse para atacar ou para ajudar a defender. O Botafogo perdeu vigor e os argentinos ganharam volume, até encontrarem o segundo gol num lance em que a área alvinegra estava mal defendida. Os alvinegros ainda tiveram chances de empatar o jogo novamente, mas não evitaram a eliminação.


A tarefa, agora, é minimizar os impactos da derrota numa caminhada absolutamente segura no Campeonato Brasileiro, competição em que nenhum rival jogou mais futebol do que o Botafogo até agora. A reação da torcida, que foi ao aeroporto numa madrugada fria para abraçar o time que voltava ao Rio, é a mais clara demonstração de qual título é, de fato, o mais importante de 2023.




Por Carlos Eduardo Mansur

Jornalista. No futebol, beleza é fundamental

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