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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Seedorf não transcendeu o time, mas encheu botafoguense de orgulho





Fato muito raro no futebol, a presença de Seedorf no Botafogo transformou-se em motivo de admiração de torcedores de todos os times, inclusive dos rivais diretos. Isso não quer dizer que o craque tenha transcendido o time, mas que a sua figura apareceu na hora certa, no lugar certo. Foi um jogador necessário ao momento do futebol brasileiro.

Seedorf deu exemplos de vários tipos. Dentro de campo e fora. Jogou contra o Quissamã, no Estadual, como se estivesse disputando final da Champions. Fez o time entender que não existe vitória por obrigação – cada triunfo deve ser festejado e entendido como uma conquista fundamental.

Vi várias vezes Seedorf reunir o time, ainda dentro de campo, para se congratular após um bom resultado e agradecer o apoio dos torcedores.

Falou sempre com equilíbrio e sobriedade, seja com jornalistas querendo arrancar declarações polêmicas, seja com os dirigentes esportivos tentando tirar vantagem do seu prestígio. Cada entrevista do jogador no Brasil funcionou como uma espécie de Telecurso Esportivo para os nossos craques bons de bola, mas de cabeça vazia.

Depois de marcar três gols contra o Macaé, em fevereiro de 2013, Seedorf chorou diante dos microfones. E explicou: "Quero dedicar esta vitória para minha avó, que faleceu 10 dias atrás. É para minha família toda. Fico feliz, pois o time manteve a calma para se recuperar dentro do jogo e conseguir essa vitória importantíssima para nossa situação na tabela".

O Botafogo festejou a conquista do Estadual (com impressionantes 15 vitórias, três empates e uma derrota) se desfazendo de alguns dos seus melhores jogadores. O time entrou no Brasileiro enfraquecido, mas ainda assim foi bem e revelou outro craque, também logo vendido. Como alguém pode reclamar de Seedorf?

O craque é falível, como todo ser humano, e não vou esquecer jamais que ele tirou a bola da mão de Lodeiro, depois que o uruguaio sofreu pênalti contra o Cruzeiro e caminhava para bater. Seedorf errou a cobrança, o Botafogo perdeu o jogo e o equilíbrio na reta final do campeonato.

Faz parte. Seedorf teve forças para se recuperar nos últimos jogos e ajudou o time a conseguir a sonhada vaga para a Libertadores.

Não foram poucas as vezes, neste ano e meio, que tive um orgulho extra de ser botafoguense. Orgulho de ver que o camisa 10 do meu time era admirado pelos torcedores adversários.

Diferentemente de muitos "ex-jogadores em atividade", que enganam dentro de campo, Seedorf atuou até o fim num nível muito alto. É mais um motivo de admiração saber que escolheu encerrar a brilhante carreira atuando pelo meu time.

Presidente Maurício Assumpção abraça Seedorf durante coletiva de imprensa que confirmou ida ao Milan como treinador Ricardo Moraes/Reuters

Mauricio Stycer
Do UOL, em São Paulo

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