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sábado, 13 de agosto de 2016

Após 8 anos de Bota, Jair é efetivado como treinador. Conheça a trajetória


Filho do "Furacão da Copa de 70" está no clube desde 2008, com breve interrupção em 2014. Em maio, ele conversou com o GloboEsporte.com. Confira abaixo o perfil




Com uma breve pausa em 2014, Jair está
 no Botafogo desde a temporada de 2008 

(Foto: Vitor Silva / SSpress / Botafogo)
Lá se vão quase nove anos desde que Jair Ventura, 37, desembarcou em General Severiano como estagiário de preparação física. Desde então, conviveu com os mais variados treinadores e jogadores, esteve envolvido em sete decisões de Campeonato Carioca, em um ciclo que foi interrompido no fim de 2013 – demitido pela antiga gestão – e reiniciado no inicio de 2015, quando recontratado pelo clube. Jair já esteve à frente do Botafogo em outras oportunidades. Neste domingo contra o São Paulo, no entanto, será a primeira vez como treinador efetivado. 

Neste longo período no clube, Jair trabalhou como preparador físico, técnico do sub-20, treinador interino e auxiliar permanente, seu cargo atual. Se tem uma pessoa dentro do atual departamento de futebol que conhece bem o Botafogo, esse alguém é Jair. Com dois Cariocas na bagagem (2010 e 2013) e convivência com ídolos como Loco Abreu e Seedorf, hoje Jair ajuda a lapidar o jovem time alvinegro. Muitos do atual elenco, como Gegê e Sassá trabalharam com ele nas categorias de base.


Nesses anos de Botafogo, Jair assumiu interinamente o time em duas ocasiões delicadas. No Carioca de 2010, após a goleada de 6 a 0 do Vasco sobre o Botafogo, que resultou na demissão de Estevão Soares, e no ano passado, após a queda de René Simões, quando Jair comandou a equipe em três partidas da Série B antes de Ricardo Gomes assumir. Curiosamente, o Botafogo foi campeão em ambas as competições.

Na véspera da decisão do Campeonato Carioca, neste ano, Jair Ventura teve um longo papo, de quase 40 minutos, com o GloboEsporte.com. Na conversa, ele falou sobre sua trajetória (inclusive como jogador), do pai (Jaizinho Furacão), de suas ideias de futebol e, especialmente, de sua longa relação com o Botafogo.Na ocasião, Jair se disse muito feliz como auxiliar, mas deixou aberta a possibilidade de virar treinador.


- Hoje o Jair Ventura está muito feliz como auxiliar e não pensa em ser treinador. Hoje. O amanhã a Deus pertence - disse Jair, na ocasião.


Neste sábado, com a confirmação da efetivação como treinador do Botafogo, republicamos a entrevista, originalmente publicada no dia 8 de maio. Confira abaixo.
Jair Ventura conquistou a confiança de Ricardo Gomes e da direção do Botafogo (Foto: Vitor Silva / SSpress / Botafogo)


Confira outros trechos da entrevista

Trajetória no Botafogo

Cheguei em 2008, como estagiário de preparação física. Em 2009 comecei como auxiliar. Em 2010 fiz meu primeiro jogo como treinador interino, e logo em um jogo complicado, depois do 6 a 0 para o Vasco. Foi um jogo difícil, com a torcida chateada com razão. O Joel (Santana) tinha sido contratado, mas disse para eu fazer o jogo. Foi contra o Tigres, em São Januário, jogo da televisão, e ganhamos por 2 a 1. Foi um jogo atípico. Primeira expulsão do Leandro Guerreiro na carreira, segunda partida do Loco pelo Botafogo. Eu o tirei durante o jogo. A torcida ficou louca (risos). Mas deu tudo certo no fim, e fomos campeões nesse ano.

Estaduais
Desde que cheguei, fomos vices em 2008 e 2009, ganhamos em 2010, em 2011 não chegamos. Em 2012 perdemos a final para o Fluminense. Em 2013 fomos campeões, mas fui demitido em no fim do ano. Para mim foi meu melhor ano no Botafogo. Fomos campeões cariocas, conquistando os dois turnos e conseguimos a classificação para a Libertadores depois de 18 anos. Mas fui demitido. Voltei em 2015, com esse projeto de levar o clube à Série A, mas conseguimos levar também o clube à final do Carioca.

Retorno em 2015
Uma nova oportunidade, um novo momento no clube, cujo principal objetivo era voltar à Série A. É lógico que queremos ganhar tudo o que disputamos. Somos competitivos, somos profissionais. Mas a direção deixou bem claro que nosso objetivo era a volta à Série A. Voltei em um clube em uma situação muito difícil financeiramente, após a saída do ex-presidente (Maurício Assumpção). Foi uma reestruturação total do futebol. Mudou tudo. Eu participei, junto com o Antônio Lopes, o René Simões, o Mantuano (ex-vice de futebol) e o presidente da montagem dessa equipe. Conseguimos montar um time que chegou à final e foi campeão da Série B. Assim como o Ricardo nesse ano, já que o time foi praticamente todo remontando. O que eu acho engraçado, é que nesses anos todos o Botafogo é sempre o patinho feio, sempre dizem que não vamos chegar, e estamos sempre nas finais. Falam que o Carioca não vale nada. Pergunta para o Eduardo Baptista (demitido neste ano pelo Fluminense após derrota para o Botafogo). Vários treinadores são demitidos nos estaduais. Vale muito.

O Botafogo atual

Todos os times têm características diferentes. Comparando com o time de 2013, por exemplo, aquela era uma equipe com uma folha salarial muito maior. O Botafogo vivia outro momento, com jogadores renomados, como Seedorf, Rafael Marques, Andrezinho, Fellype Gabriel. Tínhamos alguns garotos como o Vitinho e o Dória. Era uma equipe mais mesclada e badalada. Hoje temos um time muito jovem, mas com garotos com potencial enorme. Perdemos um pouco de experiência, mas ganhamos na competitividade. É um time leve, que corre bastante. Nosso time é muito organizado.
Jair Ventura comandou o Botafogo em três jogos na Série B após a demissão de René (Foto: Vitor Silva / SSpress)

Relação com Ricardo Gomes

É um privilégio você trabalhar muito tempo em um clube, já que você pega um pouco de cada treinador. Cada um tem uma característica. Todos nós temos defeitos e qualidades. Tento pegar e aprender o melhor de cada treinador. É um aprendizado constante. O Ricardo tem muitas qualidades. É uma pessoa fantástica. É um cara com um carisma enorme, além de um grande profissional. Isso é unânime. E eu poder participar dessa volta dele ao futebol é muito gratificante. Eu estava em casa assistindo o jogo quando ele teve o AVC (em 2011). Foi marcante, muito triste. Participar dessa volta foi algo diferente e gratificante. Hoje vejo todos elogiando o trabalho dele e é bom saber que tive uma pequena contribuição para isso.

Contribuição
O Ricardo é um cara que tem vaidade zero. Ele está sempre dividindo os méritos. No futebol ninguém ganha ou perde sozinho. Ele sempre me elogia. Isso é gratificante. Para nós, que trabalhamos nos bastidores, é importante. Somos invisíveis para o resto do mundo. Ter essa gratidão do cara que a gente ajuda é muito gostoso. Não tem como negar. Fico feliz.

Meritocracia
Aprendi muito com o Ricardo Gomes sobre organização tática. E ele coloca para jogar quem está treinando melhor. A gente coloca quem está no melhor momento nos treinos. O jogo é reflexo dos treinos. Não tem preferência por A, B ou C. O Ricardo é muito justo. E ele ganha o grupo com isso. Quem está na reserva não pode ficar satisfeito, mas tem que entender que o companheiro está em um melhor momento. O Leandrinho, por exemplo, esperou bastante e virou titular na reta final. Ele vinha treinando muito bem. O Ribamar subiu para completar treino na pré-temporada e virou a grande sensação do campeonato.

Trabalho com a garotada
Muitos desse grupo começaram comigo nos juniores. É o caso do Sassá, do Gegê, do Octávio... Todos foram meus jogadores no sub-20. É muito legal chegar a uma final com jogadores que trabalharam comigo nos juniores. Hoje em dia é difícil essa manutenção do trabalho. No ano passado, quando elogiei o Gegê, apanhei muito por isso. Pedi calma. Hoje ele é titular e está na final do Carioca.
Nota: além do sub-20 do Botafogo, Jair Ventura foi auxiliar das seleções sub-15, sub-17

Fome de título

Tem muita fome, sim. Falar que mais ou menos que os outros grupos, é complicado. Acho que todos tinham. Mas esse é um grupo jovem. Todos querem muito ganhar e marcar o nome na história do Botafogo. Isso marca a carreira de um jogador.

O torcedor Jairzinho (Jair Ventura é filho do Furacão da Copa de 70).
Ele acompanha, ele vai aos jogos. Mas ele é pai, né. Sempre nos falamos após os jogos, ele comenta, mas tudo bem informal. Ele é muito torcedor. Torcedor ao extremo (gargalhada). 


Jair Ventura teve passagem pelo futebol francês como jogador. Para ele, ser filho de Jairzinho foi um peso a mais como atleta. Jair desistiu da carreira aos 26 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

Ser filho do Jairzinho te ajudou ou atrapalhou mais no futebol?

Não me preocupo muito com isso. Tinha duas opções: ou me escondia e vivia na sombra do meu pai pelo resto da vida ou iria atrás dos meus sonhos. Optei pela segunda. Estudei, me preparei e busquei meu espaço. Talvez tenha me atrapalhado muito na época de jogador. Fui um craque? Não. Mas havia jogadores medianos que não eram filhos de ex-jogadores. Quando eu perdia um gol, como todos outros atacantes perdiam, diziam que eu só estava ali porque era filho do Jairzinho. Tive essa pressão até os 26 anos, quando deixei o futebol e fui estudar educação física. Mas ser filho de um grande ídolo, não tem preço. É um grande ídolo como profissional e como pai.

Futuro como treinador?
Hoje estou muito satisfeito com a minha função. Eu gosto de ser auxiliar. É claro que vai ter um momento que eu não terei mais opção e terei que seguir o meu caminho. Mas hoje estou muito feliz no Botafogo. Hoje o Jair Ventura está muito feliz como auxiliar e não pensa em ser treinador. Hoje. O amanhã a Deus pertence.

Carreira como jogador
Comecei no São Cristóvão, passei pelo Bonsucesso, dois anos no Bangu, um ano França, voltei para o Mesquita, depois passei uma temporada na Grécia, depois foram dois anos no Gabão. Lá, tentei me naturalizar para jogar a Copa de 2002, mas não consegui. Aí voltei para o Brasil, aos 26 anos, e disse chega. Corri atrás pra caramba, passei por muitas dificuldades, e resolvi seguir outro caminho.


Essa entrevista foi originalmente publicada no dia 8 de maio deste ano.


Fonte: GE/Por Marcelo Baltar e Thiago Lima/Rio de Janeiro

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