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domingo, 6 de maio de 2018

Perdão a Rildo, choro com Rabello e o filho Joaquim... João Paulo abre o seu coração


Em entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular, meia do Botafogo fala pela primeira vez sobre lesão, do pedido Lindoso para que ele voltasse ao jogo e da alegria pela proximidade da chegada do filho








Pouco mais de 40 dias após a grave lesão na perna direita, João Paulo abriu seu coração em entrevista ao Esporte Espetacular e falou do momento mais difícil da vida. O meia da Botafogo também lembrou do encontro com Rildo no hospital, do pedido de Lindoso para que voltasse ao jogo e, é claro, da expectativa pelo nascimento do filho Joaquim, que vem amenizando o sofrimento da família. E que ganhará, sem querer, a presença diária do pai nos seus primeiros meses de vida.


João Paulo recebeu a equipe da TV Globo em seu prédio, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Chegamos a sugerir que a entrevista fosse feita no apartamento por causa da perna operada, mas, para nossa surpresa, ele fez questão de descer. De repente, apareceu na portaria sem muletas e andando muito bem, como se não tivesse dois ossos da perna direita reconstruídos há menos de dois meses.


- Você está bem, hein!


- Pois, é! Já estou andando sem muletas (risos), mas ainda é início, tenho feito um acompanhamento com os médicos do Botafogo e exames que mostram boa evolução. Agora estou procurando andar, colocar os pés no chão mesmo para estimular essa recuperação. E claro, ficar com a família, pois é um momento delicado - disse ele, enquanto andava até um jardim próximo.


A cirurgia realizada no dia 19 de março durou uma hora e meia e consistiu na colocação de uma haste intramedular na tíbia, procedimento que evita a necessidade de engessar (confira na imagem abaixo). Na fíbula, não foi necessário o uso da haste.



Último raio-x do osso da perna direita de João Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)


Já sentado, João Paulo se mostrou muito tranquilo. Consciente da gravidade da lesão, ele disse que vem trabalhando a cabeça, recebendo o apoio de muitos amigos, principalmente do Botafogo. Em casa, curte a gravidez da esposa, Bruna, e o carinho de Balu, um labrador de seis anos que acompanha a família desde Porto Alegre.


Confira a entrevista, abaixo:

Você estava em um momento especial, jogando em alto nível e acabou sofrendo essa lesão grave. Acredito que esteja passando pelo momento mais difícil da sua vida...


Com certeza é o momento mais difícil da minha vida, mas a cabeça está boa. Se a cabeça estiver boa, as coisas andam. Isso é um fator fundamental. Nosso grupo é muito família. Vários vieram na minha casa. É uma emoção muito grande toda vez que os encontro. Isso me fortalece. Foi emocionante ver todo mundo me abraçando depois do jogo. O título não foi para mim, mas para todos. O Botafogo é uma família. Cada um teve sua parcela de importância.



João Paulo em entrevista para o Esporte Espetacular (Foto: Fred Gomes)


Quem viu o lance pela televisão, de imediato, percebeu a gravidade da lesão. O que veio na sua cabeça na hora?


Não dava para ter dimensão. Até tentei levantar e voltar para o jogo. Não consegui pensar no que havia acontecido, só quando me levaram para o vestiário mesmo. Quando cheguei, o doutor pegou na minha perna e ali tive uma noção de que a coisa era séria. Momento muito difícil até chegar no hospital, pois passava muita coisa na minha cabeça. Mas nunca que eu não poderia voltar a jogar futebol. Lindoso queria que eu voltasse na hora.


Como assim?


Lindoso gritava: "Volta, volta". Mas é claro que não dava (risos). Ele não sabia da seriedade da lesão. Mas o Chuchu (massagista) dizia: "Não levanta, não levanta"...



João Paulo tentou apoiar o pé após a lesão (Foto: FERNANDO SOUTELLO/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO)


Depois da cirurgia, você recebeu muitas visitas no hospital, inclusive do Rildo. Foi difícil perdoá-lo?


Outro momento difícil até por ser um ato recente. O Rildo foi no hospital no dia seguinte pedir desculpas. Perdoei. Vida que segue... A única ressalva que faço é de que os atletas tenham mais cuidado, principalmente com os pés levantados. Mas não fica nenhuma mágoa dele. Espero que futuramente possamos nos encontrar sem nenhuma lesão.


No primeiro julgamento, ele pegou uma pena correspondente ao tempo em que você ficaria parado. Concorda? Acha que o adversário deveria sofrer igual?


Complicado eu falar de tempo de punição, pois foge do meu conhecimento. A única coisa que peço é que os jogadores pensem um pouco mais nessas jogadas. Não tiro o pé em divididas, mas é preciso tomar cuidado. Pela imagem, da para ver que ele tentou chegar na bola. Que sirva de aprendizado.


Nota da redação: Na última quinta-feira, o Tribunal de Justiça Desportiva reduziu a pena, e Rildo pegou 5 jogos de suspensão por lance com João Paulo. O jogador do Vasco havia sido punido com 180 dias.



Quem mais apareceu por lá?

Um dia após a lesão, o Valentim foi ao hospital e me disse que buscaria o título para mim como uma forma de homenagem. Depois da final, ele me chamou para ir junto com o grupo para a sala de coletiva. Acho que foi para passar uma mensagem de como o grupo é unido.


Apesar do pouco tempo no Botafogo, o Alberto Valentim parece que conquistou mesmo o carinho do grupo. É por ai?


É um cara que você vê nos olhos que não se contenta com pouco. Faz treinamentos com muita intensidade e a gente leva isso para os jogos. Um cara por quem tenho muita consideração e sei que vai longe em sua carreira.


Você falou em homenagem, e teve uma especial do Igor Rabello, na vitória por 3 a 2 diante do Vasco na semifinal da Taça Rio. Foi surpresa ou ele havia prometido?


Desceu um suor nos olhos (risos) na hora. Igor é um jogador novo, mas já apresenta uma confiança grande. Tenho certeza que chegará longe. Como disse, o grupo é muito fechado. Tenho carinho por todos. A homenagem foi inesperada. Por isso, acabou sendo mais emocionante.



Igor Rabello homenageou João Paulo com a "famosa" touca (Foto: André Durão / GloboEsporte.com)


Por falar em touca, ela se tornou uma marca registrada...

O lance da touca foi no ano passado. Tive alguns cortes na cabeça em três jogos seguidos. O Botafogo acabou indo bem. Eu saia nas ruas, e o pessoal mandava eu colocar a touca. Teve um ingresso da Libertadores que saiu com minha imagem. Depois um torcedor fez uma montagem com a touca e ficou legal.


Você gostam de se referir ao grupo do Botafogo como uma "família". Tem alguém que você seja mais próximo?


O Gilson é o cara que tenho mais proximidade. Saímos muito para jantar, e nossas mulheres também são amigas. Mas tenho outros amigos também. Fazíamos churrasco aqui, mas agora o churrasqueiro está de folga (risos). Futuramente, voltaremos a fazer.



João Paulo ergueu a taça do Carioca (Foto: Vitor Silva/SSPress/Botafogo.)


Como foi para você estar presente no vestiário na final do Carioca e não poder entrar em campo. Chegou a falar alguma coisa na conversa antes do jogo?


Fui com os jogadores no ônibus. Foi um momento bacana. Na roda do vestiário, não falei nada. Procurei falar com alguns em separado.


E como foi a comemoração no gol do Carli? Onde você estava?


Estava próximo de uma mureta nos camarotes e muitos vascaínos já estavam comemorando. Quando o Carli fez o gol, os outros jogadores do Botafogo vieram como uma avalanche para cima de mim e eu só gritava: "Minha perna, minha perna". Mas eles não estavam nem aí. O jogo foi eletrizante. Foi um bom teste para o coração, que está excelente (risos).



Falando em coração. Ele vai bater mais forte ainda nesse mês de maio com a chegada do Joaquim. Você acaba vivendo dois momentos distintos ao mesmo tempo...


A previsão para a chegada do Joaquim é entre os dias 15 e 20 de maio. Tirar desse momento difícil um lado positivo. Vai ser um momento especial na minha vida. Normalmente, nós jogadores perdemos esses momentos. No dia em que cheguei ao hospital, falei com minha mulher que Deus tinha mandado essa lesão por um motivo especial. Tudo na vida tem um lado positivo.



Bruna e João Paulo em momento de lazer no Rio (Foto: Arquivo Pessoal)


Ainda sem data certa para o retorno, João Paulo segue fazendo trabalhos de fisioterapia por, pelo menos, três horas diárias no Estádio Nilton Santos. A expectativa é que ele volte a treinar depois da Copa do Mundo, mas isso vai depender dos exames. Enquanto a volta não acontece, o pai do Joaquim vai dando uma de torcedor e acompanhando o Botafogo pela televisão.


Fonte: GE/Por Edson Viana, Felippe Costa e Fred Gomes, Rio de Janeiro

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