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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Montenegro detalha projeto empresa do Botafogo: ''Os clubes têm de parar de viver só de história''


Na primeira parte da entrevista ao GloboEsporte.com, ex-presidente fala sobre estágio da mudança. Segunda parte do papo, com foco na crise financeira, vai ao ar ainda nesta sexta


Fred Gomes


O Glorioso faz papel digno no Campeonato Brasileiro, mas desde que o projeto da criação da "Botafogo S/A", plano proposto após apresentação de estudo encomendado pelos irmãos Moreira Salles, ganhou corpo e força, a ansiedade do botafoguense não é mais pelo próximo jogo. Conta, sim, as horas para chegar 2020 e ver a concretização da SPE (Sociedade de Propósito Específico).


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Um dos 10 integrantes do grupo de trabalho que vêm projetando a empresa responsável por gerir o futebol alvinegro e "cardeal" dos que mais ajuda o Botafogo, Carlos Augusto Montenegro, presidente do título brasileiro de 1995, recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em sua casa, na Zona Sul do Rio de Janeiro.


Esta é a primeira parte da entrevista de Carlos Augusto Montenegro ao GloboEsporte.com. Não perca ainda nesta sexta-feira a segunda parte da conversa, na qual o ex-presidente fala mais sobre a delicada situação financeira do Botafogo em 2019. O restante do papo será publicado às 18h.


Depois de contar como virou botafoguense mesmo sendo filho de um tricolor, no fim dos anos 50, e bater um papo sobre o Ibope, empresa que presidiu por quatro décadas, esmiuçou a "Botafogo S/A" em entrevista com duração superior a de uma partida de futebol.



Carlos Augusto Montenegro conversa ao lado de um tevêmetro, aparelho que mede a audiência da TV pelo Ibope — Foto: Fred Gomes


Explicou por que os Moreira Salles se afastaram do noticiário, apontou quem vai definir se serão pessoas físicas ou jurídicas os futuros investidores do Botafogo. Foi assertivo ao dizer que o projeto estará pronto para sair do papel até o final de outubro, respondeu se o Alvinegro já investirá alto em 2020 e fez um alerta aos mais tradicionais que possam ter ressalvas à criação da uma empresa que vai gerir o futebol e se separar do Botafogo de Futebol e Regatas:


- Está na hora de os clubes pararem de viver só de história. Se ficar pensando na tradição, vamos continuar sucumbindo, vivendo de passado e cada vez mais fracos. Ou você resolve, e é uma decisão séria para sobreviver e tentar disputar com dignidade, ou fica como está.


- Mas tem outra alternativa? Não tem, já ficou provado. Se alguém não estiver satisfeito com a ideia, que dê outra solução. Agora ficar falando sem trazer proposta nenhuma, não tem nada a ver.


Confira os demais tópicos abaixo:

No início do ano, o Botafogo começou a discutir a criação de uma empresa para dirigir o futebol alvinegro. Nesta semana, a questão tornou-se mais ampla e se estendeu a outros clubes. O melhor caminho é a substituição das associações sem fins lucrativos, modelo adotado por quase todos no país hoje, por sociedades anônimas ou limitadas?


Já estava na hora de parar de dizer que futebol não tem fins lucrativos. É mentirinha. Hoje estão dizendo que essa nova lei do clube-empresa, que aliás já estava na hora, é feita para ajudar o Botafogo. Talvez por causa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Não é, mas na minha opinião deveria ser. O Botafogo foi o clube que mais jogadores cedeu para a Seleção, talvez aquele que mais ajudou o Brasil a ter esse nome no mundo todo.


Em segundo lugar, na década de 70, o Botafogo talvez tenha sido o único clube do Brasil que vendeu sua sede histórica de General Severiano para pagar impostos. O que chamavam naquela época de INPS. E depois não teve fôlego para honrar um contrato de retrovenda com a Vale do Rio Doce e perdeu a sede.


"O Botafogo foi mutilado, perdeu patrimônio tentando pagar impostos impagáveis. Os outros clubes não fizeram isso, continuaram devendo. O Botafogo foi exemplo na tentativa de honrar seus compromissos e cortou na própria carne. Nada mais do que justo de chamar essa lei de Botafogo, é um case. Através dela que as pessoas estão trabalhando".



Carlos Augusto Montenegro é o presidente do título brasileiro de 1995 — Foto: Fred Gomes


Dizem que o Botafogo talvez tenha a maior dívida. Não é, mas trata-se de um dos maiores devedores, em torno de R$ 700 milhões. Mas vários outros times estão rodando por ali. Talvez de 30% a 35% da dívida seja de curto a médio prazo. E o resto é mais a longo prazo, justamente de impostos. O Botafogo chegou a isso por vários fatores, discrepância nas cotas de televisão, problemas de gestão... A televisão já foi benéfica aos clubes, hoje não é. Por que a Premier League, que melhor paga aos clubes, paga 250 milhões de libras em cotas de TV ao Liverpool e 200 milhões de libras ao 20º colocado, que acabou de subir? Deveria haver algo mais justo, ou acabaremos com um direcionamento para um campeonato de um ou dois clubes.


Por que o Botafogo chegou ao atual quadro de asfixia financeira?

Talvez o Botafogo não tenha feito o dever de casa importante em relação à base quando deveria ter feito. Talvez o Fluminense, Vasco e Flamengo tenham tido mais êxito nessa área que o Botafogo. Talvez tenhamos ficado um pouco no passado em relação a isso, querendo que o jogador atue no clube desde os 10 anos de idade. É muito difícil isso.


Enfim... Realmente é um clube diferente, com muita gente importante que torce querendo ajudar. Já tivemos pessoas de sucesso no Brasil falando em profissionalização. Bebeto entrou, pessoa muito séria, apaixonada pelo Botafogo e não conseguiu (com a criação da Companhia Botafogo).



Montenegro tem um quadro que relembra a ida dele ao lado de amigos e filhos à semifinal da Liga dos Campeões de 2019 — Foto: Fred Gomes


Eu já fui presidente, saí em 1996 devendo quatro ou cinco meses de salários. Falamos de 25 anos atrás e o cenário é o mesmo. Não tinha nem cota de televisão. Acho que Deus me ajudou naquele mandato, meu pai faleceu na mesma época, mas consegui algo muito mais importante do que a volta à sede ou o título de 1995: o carinho de todos os botafoguenses até hoje me chamando de presidente eterno.


Não quis voltar para não perder esse título, porque certamente perderia. Mas fiz uma promessa de ajudar a todas as pessoas sérias que estivessem à frente do Botafogo porque senti na pele o que é ser presidente com dívidas e penhoras. Você pode até planejar tudo, mas ai surge uma dívida antiga e bagunça tudo. Além da carência de títulos, bons times, ídolos, faz com que a torcida não seja renovada.


Gratidão aos Moreira Salles e pedido para que finalizem o CT o quanto antes.

Alguns falam que vão entrar, contratar ídolo, ser campeão... Então faz, qual a mágica? Reparamos agora que tinha que começar do zero. Houve uma ajuda dos irmãos Moreira Salles, sou muito grato a eles. Todo botafoguense deveria ser. Eles ajudaram de todas as formas. Se eles terminarem o CT já seria o maior presente do mundo. Eles viraram alvo de uma ansiedade/esperança da torcida, achando que eles fariam milagre, transformar tudo em ouro.


Foi uma iniciativa do João e do Walter que se propuseram a ajudar e já ajudaram muito. Entregaram o estudo, com o qual vamos tentar separar o futebol do resto do clube criando uma empresa específica para isso, que pagaria royalties ao Botafogo para ir quitando a dívida ao longo do tempo. E basta isso. Se eles puderem entrar no futuro, ou não, não tem importância. Já fizeram muito. O importante agora é procurarmos possíveis investidores, o mercado está propício.



João Moreira Salles, Botafogo — Foto: Reprodução


Athlético-PR como exemplo e opinião de que esportes olímpicos não podem ser prioridade agora

"É a hora de começar a fazer um clube novo, um time de futebol novo, até como é o Athlético-PR. É um exemplo. Tem CT onde profissional e base convivem. Não tem clube, não tem sede, sauna, piscina, cloro, basquete... É futebol. Não é um fundo, mas estão de parabéns. Não à toa estão ganhando títulos. Não tem mistério. Não tem a história do Botafogo? Não. Mas está na hora dos clubes pararem de viver de história. Tem que viver de realidade".


Esse estudo é isso. A grande vantagem é que vai tentar afastar a paixão do dia a dia. A paixão leva a contratações erradas, a ter pessoas erradas. Todos acham que podem fazer a melhor gestão do mundo. Se não tiver dinheiro, afastar as penhoras, estancar hemorragia e começar do zero, ninguém consegue. Não dá com as receitas de hoje para sobreviver e montar time bom. O dinheiro já é pouco e ainda diminui com as dívidas do passado. É preciso montar um formato diferente.


Em que pé está o projeto?

Faço parte de um grupo de trabalho com 10 pessoas. Temos que formatar um fundo e registrar na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), angariar pessoas que estejam interessadas em investir. Ao mesmo tempo criar uma empresa, Botafogo S/A, específica para tocar isso. Esse fundo - Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) - será dono dessa empresa.


Obviamente vai ter um acordo para manter série de coisas, como cores, camisa, escudo, hino, etc, para preservar a tradição. Teremos que fazer um estudo para o sócio proprietário verificar de que forma ele gostará de participar do clube no futuro. Vamos continuar tendo o Botafogo social com sede, piscina, basquete, vôlei... E vai ter o Botafogo do futebol. Ele vai ser sócio de quê? A ideia é passar tudo que diz respeito ao futebol, zerado, sem hemorragia, para a nova empresa. O estádio, sócio torcedor, receita de TV, patrocínios, dívidas, orçamentos.



Carlos Augusto Montenegro conversa no escritório que tem em sua casa, na Zona Sul do Rio — Foto: Fred Gomes


Esse grupo de trabalho do qual o senhor faz parte é formado pelos investidores ou por pessoas que planejam a Botafogo S/A? O FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) será formado só por pessoas físicas ou apenas por jurídicas? Ou pode-se ter as duas categorias?


Exatamente isso que vai ser uma pergunta que o Conselho vai fazer, e a gente não sabe responder. Estamos contratando auditoria, formatação, já estamos traduzindo tudo para o inglês a fim de apresentar para os investidores.


Tem uma pessoa liderando o processo, isso vai ser submetido à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Esses passos todos estão programados e vão ser dados.


A pergunta que mais ouço é: "Presidente, eu queria investir, seja com R$ 100, R$ 1.000 ou R$ 100.000". Eu acho isso lindo, é uma coisa de botafoguense, de gente querendo ajudar e participar.


Qual é o valor mínimo (cota por investidor)? Não sei. Se a CVM amanhã decidir que o valor mínimo de uma cota será de R$ 5 milhões, essas pessoas que querem investir R$ 100 ou R$ 1.000 não vão ter como, coitadas. Vai ser uma decisão da CVM.


A não ser que junte uma porção de pessoas e consiga entrar com uma cota. Mas eu sinceramente não entendo de mercado financeiro, de CVM, de Cedic e do que se pode fazer. Você tem obrigações. Se você não cumprir, é punido.


É justamente essa pergunta que você fez e que acho que vão fazer no Conselho que a gente não tem a menor ideia de como responder. Hoje.


O que faz a pessoa que está liderando esse processo?


Tem um do nosso grupo que está mais dedicado a viajar para conversar com alguns fundos, o próprio Ricardo Rotenberg está viajando para falar com outros. Mas tem uma pessoa que está formatando essas coisas para preparar para a CVM.



Como ficaria o resto do clube, o Botafogo de Futebol de Regatas?

Até conversei com o Nelson (Muffarej, presidente). Era hora do pessoal do clube fazer dever de casa, montar orçamento do clube sem o futebol a partir do ano que vem.


"Não dá pra ter escolinha de natação? Não tem escolinha. Não dá pra ter vôlei, então não terá vôlei. Não dá pra ter três porteiros, então deixa só um. Como toda a empresa... Tem que ter receita e despesa. Não pode o negócio futebol ficar financiando o cloro da piscina, não existe isso".


"Como se faz isso? Não sei. Mas o Athlético-PR fez. Então dá pra fazer. Se ficar pensando na tradição, vamos continuar sucumbindo, vivendo de passado e cada vez mais fraco. Ou você resolve, é uma decisão séria, para sobreviver e tentar disputar com dignidade, ou fica como está".


Mas tem outra alternativa? Não tem, já ficou provado. Sem alguém não estiver satisfeito com a ideia, que dê outra solução. Agora ficar falando sem trazer proposta nenhuma, não tem nada a ver.


Qual o prazo para o projeto se tornar realidade?

Montamos um grupo de 10 pessoas, têm advogados, gente preparada de tudo quanto é lado. O presidente Nelson Mufarrej, o vice Carlos Eduardo Pereira, o Novis (vice de finanças), estão participando desse grupo. Mas procuramos separar um pouco para deixar os outros vices tocando o dia a dia do clube, e essas pessoas focarem apenas no projeto.


Tenho que fazer um elogio grande ao Claudio Good (grande benemérito), ao Paulo Mendes (VP de Relações Institucionais), ao Manoel Renha (Diretor de Futebol da Base) e principalmente ao Ricardo Rotenberg (VP comercial de marketing), que junto comigo estão noite e dia focados só nisso.


"Temos que sobreviver até dezembro"

Ricardo está igual um doido visitando vários fundos e deixando tudo preparado para apresentarmos o formato, o orçamento da empresa, a parte jurídica. Rotemberg tem sido um leão nisso, ao mesmo tempo em que busca patrocínios para o clube sobreviver até o fim do ano. Nosso foco é chegar até dezembro. Estamos sem recursos. Temos que sobreviver até lá.


Necessidade de buscar a Libertadores em 2019 para facilitar a entrada da Botafogo S/A

Mas sem medo de rebaixamento, estamos buscando a Libertadores. E a cada posição que você termina na frente da tabela, mais dinheiro a TV paga. Pode facilitar a implantação da nova empresa ano que vem. Muita gente fala que quer ajudar, que investir. Masa ainda não é a hora. Estamos formatando, ainda vai passar pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), pegar autorização, criar o fundo, FIDC (Fundo de investimento em direitos creditórios), tem regras, aportes mínimos.



No escritório de Montenegro, não faltam imagens e itens alusivos ao Botafogo — Foto: Fred Gomes


"Até o final de outubro vamos estar preparados"


"Até o final de outubro vamos estar preparados. A ideia não é só pagar a dívida, mas que também seja algo lucrativo. Ai falam que alguém vai botar sei lá quantos milhões e pagar a dívida... Não é assim".


Muitos torcedores acham que os irmãos Moreira Salles vão assumir, ligar para o Messi, e montar um timaço logo de cara...


Nem eu quero isso como doação, porque não vai resolver nosso problema. Eles podem até entrar depois no fundo se quiserem como cotistas. Mas o que eles já fizeram pelo Botafogo, o que emprestaram de dinheiro, o que doaram, e principalmente com o CT, já está bom demais. João e Walter foram fantásticos. Se eles entenderem que é interessante para eles mais adiante, claro que serão bem-vindos. Mas não podemos fazer nada baseado em pessoas.


"Eu pretendo investir. É mistura de amor, de ter a honra de participar e quem sabe no futuro meus filhos ou netos tenham algum retorno desse investimento. É tudo delicado. Estão discutindo a questão tributária, querem virar empresa mas continuar pagando pouco imposto".


O clube tem um papel social que o governo não faz, que é de tirar gente da rua. Talvez tenha que ter incentivos por isso, mas todo mundo com finalidade de lucro. Está na hora de falar sério nisso. O Governo pode ajudar reconhecendo o papel do clube. Quanto menos interferência melhor.


Quais são os próximos passos para a criação da Botafogo S/A? Há uma reunião no Conselho Deliberativo na próxima terça-feira para exposição do projeto, certo?

Vai ter uma reunião terça-feira, e não vai ser apresentado nada (risos). Uma reunião que foi mal convocada. É o nervosismo e a ansiedade. O presidente do Conselho Deliberativo (Edson Alves Junior), que adora basquete, adora vôlei e vive num mundo à parte, muito pressionado pelos conselheiros, convocou uma reunião.


A gente não tem nada para falar porque não está pronto. Se tivesse alguma coisa para falar, eu falaria para vocês, porque vocês nos ajudariam a angariar investidores e etc. Ainda não está pronto.


Vamos falar exatamente o que estou falando para vocês. Vamos fazer um fundo, o FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), depois vamos fazer a empresa. Agora a gente tá começando a trabalhar junto com essa lei (de transformar os clubes em empresa) que querem votar em outubro.


Estamos adaptando, já temos vários fundos contactados, mas tudo com N.D.A (Acordo de Não Divulgação) assinado, tudo com termo de confidencialidade. Não se pode falar ainda. "Não, mas vamos fazer uma reunião no Conselho". Faz. A gente vai ficar brincando de falar coisas. Vai falar o quê?

Quando vocês tiverem tudo definido sobre a SPE (Sociedade de Propósito Específico), aí sim farão uma nova reunião com mais respostas, certo?

Vamos ter que fazer com o Conselho. E mais do que isso com a Assembleia Geral. Convocar todos os sócios, que são os que votam, e apresentar. Pode acontecer de o Conselho não aceitar, o que não acredito, e a Assembleia aceitar. Como se fosse uma eleição de presidente.


Como convencer pessoas que não são botafoguenses a investir nisso? É possível que se tenha lucro mesmo com o Botafogo na atual situação?

O Brasil, ao contrário da Europa, com esse negócio de não poder ter gente de fora. Ter limite de coisas... Clube de futebol depende de Conselho Deliberativo, de regras, e todos os investidores estrangeiros sempre fugiram disso. Não quero saber disso, é muito confuso.


"O time perde, e eles mandam embora o técnico. O técnico fazia um bom trabalho, aqui na Europa ele ia ficar mais um ano. Então esse pessoal é maluco, não sabe administrar". Isso é o que o estrangeiro.


Na Europa, você chega num clube e pergunta: "Quanto custa o clube?. São 250 milhões de euros? Bum, tá aqui, tchau. Vai embora todo mundo". Você é o dono do clube.


Aí você bota o seu CEO, o seu financeiro, o seu comercial, o seu diretor de futebol, competições e etc. Acabou. O cara é dono de tudo. Comprou. A gente está tentando fazer um formato desse tipo aqui no futebol. Pode ser um cara só que chegue com 250 milhões de euros, por exemplo.


Muita gente me pergunta. E se aparecer muita gente e chegamos aos 400 milhões de euros? O projeto que você fez para 30 anos vai ser feito em dois anos e meio. Já vai começar a distribuir, quitar tudo e reembolsar os investidores.


"Esse pessoal tem que ter a segurança e a garantia que ele manda ao estar entrando. Se forem botafoguenses, ótimo. Senão, vai ser profissionais. O mais importante nesse projeto é dar segurança aos investidores de que eles realmente vão mandar".


"Todo mundo fala: 'Eu quero profissionalismo, não quero mais amador'. Será que só existem profissionais botafoguenses no mundo? Os caras vão botar os profissionais em que eles confiam. Se não estiverem indo bem, manda embora. São cobrados, têm metas".


Os irmãos Moreira Salles não estão na liderança desse projeto. Apenas formataram a ideia, certo?
Se vocês repararem bem, eles saíram da mídia, nunca mais ninguém falou neles. Por quê? Porque eles não querem aparecer, porque eles acham que já cumpriram o papel deles, e eu também acho.


Montenegro insiste no pedido para que os Moreira Salles finalizem o CT
Eles estão torcendo pelo projeto que eles pagaram. Se através de vocês eu puder pedir alguma coisa aos irmãos Moreira Salles, peço de uma forma sincera e até emocionada que eles, pelo amor de Deus, terminem o mais breve possível o centro de treinamento do Botafogo.


A gente precisa muito disso aí para que todos estejam lá no ano que vem. Até para que possamos devolver o Caio Martins. Isso até denigre a imagem, porque usamos o Caio Martins como um gatilho. As pessoas falam que o vestiário está ruim ou que o teto está sem pintura.A gente não tem interesse naquilo, nos serve de forma transitória. A gente precisa começar logo num negócio novo.


"O Botafogo tem que ter os profissionais todos no Engenhão, inclusive a parte administrativa, a parte financeira e a comercial. Toda no Engenhão, que é enorme. E o futebol amador lá no Espaço Lonier, e às vezes com o futebol profissional indo lá, e o amador vindo cá".



CT do Botafogo, no Espaço Lonier, ainda está longe da conclusão — Foto: Divulgação / Botafogo



O futebol do Botafogo só precisa dessas duas coisas. Do Nilton Santos e as pessoas da base no CT. Mais nada. Não precisa de Marechal Hermes nem Caio Martins. De nada.


Em que pé está a conclusão do CT? A impressão que temos é de que o dinheiro dos irmãos Moreira Salles serviu para comprar o espaço, mas que ainda falta verba para colocá-lo de pé.


O formato inicial era o seguinte: João e Walter (Moreira Salles) comprariam o espaço. Compraram. Demorou um tempo, porque eles queriam tudo legalizado. Depois fariam uma obra onde entrariam com uma parte do dinheiro, e o Botafogo entraria com outra.


Existiu aquela tragédia no Ninho do Urubu, eles ficaram preocupados com isso e ao mesmo tempo desconfortáveis com essa pressão toda em cima deles pelo projeto do clube-empresa. Então eles recuaram.


Nesse novo formato, eles já sentiram que o Botafogo não tem um centavo para fazer nada. Então estão se predispondo a entrar e fazer tudo. Até por decisão do João, foi o que me falaram, fazer uma coisa mais moderna e eficaz para não ter nenhum problema. Eles cuidariam da administração, e o Botafogo, da parte esportiva.


Ficaria tudo no nome deles, e eles passariam tudo ao Botafogo no dia em que achassem interessante. Como viajei, não me atualizei disso. Mas depois saberei qual será o ritmo e o que pretendem fazer para terminar isso. Sei que vai ter que mudar um pouco o que foi vendido no Conselho.


Tem muito botafoguense pensando que o Botafogo vai virar o Real Madrid em janeiro. O fundo quitará as dívidas trabalhistas e tornar o Botafogo sustentável. Já pensam na montagem de um time que possa pensar em Copa do Brasil e brigar por G-4?

Não. Eu acho o seguinte: esse pessoal que vai comprar é quem vai decidir. A ideia é zerar algumas dívidas a curto prazo, quitar alguns adiantamentos que foram dados e colocar uns R$ 20, R$ 30 milhões de capital de giro para não ter problema de pagamento.


Essa é a ideia. A minha participação, se Deus quiser, acaba em novembro e dezembro. Aí eu vou para a arquibancada. Talvez acabe eu pagando a conta da Cedae de novembro, mas tem que acabar. Ninguém aguenta mais a forma doida, atabalhoada, angustiante e amadora de hoje.


Você está começando a fortalecer um time a partir do momento em que você só se dedique ao futebol. Todos estão trabalhando muito por patrocínio. O pessoal da Arena do Palmeiras, a W Torre, tá interessada em entrar. Faz parte do projeto? Não. Mas vão entrar. Os caras querem fazer shows, isso e aquilo, e tornar rentável o Nilton Santos.


Toda a ideia de receita do futebol, como sócio-torcedor, venda de jogadores da base, contratações de atletas, shows, naming rights e patrocínio master, é da empresa do futebol. E as despesas também.


E a ideia é essa empresa nova pagar royalties que seriam para o "Botafogo que fica" (De Futebol e Regatas, sem fins lucrativos) pagar as dívidas. Por isso que o "Botafogo que fica" tem que fazer o dever de casa para saber com o que ele fica. Esse dinheiro, ele não vai poder usar, é para pagar dívida. É para pagar Ato Trabalhista, rescisão, impostos, despesas na área cível, fornecedores para os quais você esteja devendo.


Dos fornecedores novos, por exemplo, você vai ter o cara que cuida do gramado. O cara que cuida do gramado pode ser o mesmo, mas a partir do dia X ele vai receber em dia da empresa nova e vai negociar pelo Botafogo a dívida dele com a empresa nova que vai pagar através do Botafogo.


Se o "Botafogo que fica" começar a ter despesas sem ter receita, ele vai ter problema e não vai haver ninguém para ajudar. O compromisso é com o que aconteceu até 30 de dezembro, por exemplo.


Se o "Botafogo que fica" for administrado de uma maneira que não se torne viável, é possível que o Botafogo de Futebol e Regatas não exista mais e fique só o Botafogo empresa?

Teoricamente sim, poderia. Você está com uma empresa nova, vai ter que continuar pagando a dívida. A legislação nova faz coisas de modo que você nem precise separar, mas a gente acredita que sem separação não vem ninguém de fora.


O que já discutem de 2020 sobre aproveitamento de pessoas que lá já estão? Casos do Anderson Barros e do Barroca, que têm segurado um rojão, por exemplo?


"Nunca tinha convivido com Anderson Barros, estou convivendo com ele há um ano e meio. Há muito tempo não vejo um profissional tão competente, tão correto e transparente. Os jogadores o adoram, é uma pessoa muito pragmática, muito trabalhadora".


Acho que uma das razões de o Botafogo estar de pé é ele. Óbvio que na torcida tem parte que gosta e que não gosta. Óbvio que a torcida reclama de contratações, isso vai ter sempre. Mas o Anderson Barros tem feito um belo trabalho.


"E o nosso Barroca também. É elenco, mas vocês têm que analisar o custo. O Botafogo tem o pé no chão. Ele sabe até onde pode ir dentro das dificuldades dele".



Montenegro é favorável às permanências de Anderson Barros (ao fundo) e Eduardo Barroca — Foto: Marcos Ribolli/GloboEsporte.com


Se perde dois jogos, você fala em contratar o Dorival, o Mano Menezes? Para fazer testes não adianta. Se perguntarem para mim, você ficaria com eles ou não? Eu ficaria, porque são profissionais sérios.


Têm muitos jogadores em final de contrato. Se você me perguntar se precisa de reformulação, temos que pensar de acordo com a nossa perna. Vai ter mais verba? Vamos ter isso no orçamento? Então vamos pensar em fortalecer o time.


"A gente até estava com time arrumadinho e só perdeu gente. Erik tava muito bem e foi embora. Biro Biro estava arrebentando nos treinos e teve problema no coração. A gente não tá dando sorte também. E não está repondo. A gente precisaria de reforços para o ataque, precisaria, mas não tem condição. Vamos esperar o ano que vem".


Para esboçarmos como será essa manutenção ou contratação de pessoal para o ano que vem, vamos fazer um beabá. Serão criados fundos de investimento e uma empresa...


Não, já há fundos que existem, mas você terá um fundo master, o que a gente chama de FIDC.


Mas quem vai definir quem é o dono e qual será a equipe que vai comandar o futebol?

O que tiver mais ações. Você pode ter um fundo que entra com 20 milhões de euros, outro com 30 milhões, mas entra um com 80 milhões de euros. Esse cara que vai mandar.


Se mais adiante, João e Walter quiserem entrar com alguma coisa na frente, vão entrar. Eles têm pessoas de confiança na vida deles e que gostam do modo de trabalhar. Gostam do Manoel Renha, do Paulo Mendes, têm várias pessoas da área financeira em quem eles confiam.


Podem indicar pessoas ou não. Se a CVM permitir, junto a esses fundos, você pode ter pessoas físicas.


O que pode acontecer para esse projeto tão promissor não se concretizar? Há alguma resistência?


"Zero, até hoje não soube de ninguém contra. O que pode acontecer é de não encontrar os investidores".


Há avanços significativos nesse sentido de captar investidores?
Pelo feedback que a gente tem recebido, sim.


E o novo CNPJ seria obtido até dezembro?

"CNPJ você faz em 15 minutos, a gente precisa de grana. De gente querendo investir".


A ideia é até final de outubro você montar um sumário de coisas mostrando como é e pegando os OKs da empresas para o fundo. Dia X marca, deposita-se no fundo, e o fundo começa a jogar na SPE. Em outubro, começa a viajar e mostrar às empresas.


Aí você tem que viajar ou esperar que muitos fundos venham aqui. Podemos ter fundos do Brasil também. Até o final de outubro temos que estar com o formato pronto para começar a angariar.


Fonte: GE/Por Edgard Maciel de Sá, Edson Viana e Fred Gomes — Rio de Janeiro

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