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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Vagner Mancini, técnico do Botafogo, desabafa: ‘Estou chateado. Tudo tem um limite na vida’



Apesar das dificuldades, Vagner Mancini não se arrepende de ter acertado com o Botafogo Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo
O técnico Vagner Mancini chegou ao Botafogo no dia 15 de abril e, em pouco tempo, seus sonhos foram atropelados por um pesadelo maior: salários atrasados e jogadores insatisfeitos fazem parte da deprimente rotina alvinegra.

Seu salário também está atrasado?

Vou para o quarto mês de atraso de imagem. Do salário da carteira, recebi até agora o pagamento equivalente a um mês e meio de trabalho.

Como avalia a crise do Botafogo?

A situação está muito difícil. Qualquer ser humano é capaz de imaginar o quando é complicado ficar tantos meses sem dinheiro.

A crise está desmotivando o time?

Nosso ambiente é maravilhoso. Por isso, estamos de pé ainda. Há um comprometimento muito grande. Se não fosse assim, eu não estaria aqui. Mas quase todas as semanas a gente tem que contornar alguma coisa. Com sinceridade, eu não vejo os jogadores correndo, treinando ou jogando abaixo do que podem. Mas acho que o cara talvez não consiga se preparar devidamente. Quando tem algum problema emocional ou pessoal, você não consegue se entregar ao máximo. A falta de pagamento atrapalha a preparação. Não adianta o jogador querer ficar feliz no domingo para entrar em campo e jogar, se na segunda-feira, na terça, na quarta, na quinta, na sexta e no sábado ele não estava feliz. Então, de certa forma, atrapalha.

Como os jogadores de salário mais baixo conseguem se virar sem salário?

Não vou citar nomes, mas um ou outro jogador com situação financeira mais equilibrada tem socorrido os demais. Temos jogadores no Botafogo, os mais experientes do grupo, que agem como se tivessem sido escolhidos a dedo para passar por essa situação.

Está decepcionado?


Não sei se o termo é "decepcionado". Tenho tentado de todas as formas mostrar que a única maneira que temos de reivindicar algo é ganhando as partidas. Estou focado nisso. O futebol me deu condição de suportar por um tempo essa situação, mas, como todo mundo, estou chateado.

Está, então, arrependido de ter aceitado o convite do Botafogo?


É engraçada essa pergunta, porque não me arrependo. Ainda tenho expectativas muito boas em relação ao Botafogo, embora o cenário seja esse. Quando acabam as perspectivas, você não tem vontade de ir ao trabalho. Isso não acontece comigo. O bom ambiente é o que está sustentando todo mundo no Botafogo. Lógico, eu quero uma solução, mas vejo no dia a dia como um grande diferencial o fato de esse grupo conseguir suportar tudo isso.

Já tinha passado por situação semelhante de atraso de salário?

Passei uma vez um período não tão longo assim, no Bragantino, na minha época de atleta. Fazia muito tempo que não acontecia.

Mas a diretoria não aponta uma solução, uma luz no fim do túnel?

É exatamente isso que estamos tentando entender. Tudo tem um limite na vida. A gente tem tentado fazer com que todo mundo se motive. Todos somos cidadãos, temos obrigações. Vai chegar uma hora em que o poder de convencimento ficará enfraquecido. Eu e minha equipe temos feito isso com maestria. Cuidamos de quase 50 pessoas, para que se comprometam e se motivem. O futebol brasileiro tem que melhorar sua estrutura. Hoje, o mais fácil é dar treino e botar o time para jogar. O mais difícil é o que está por trás disso.

Você sabia que os jogadores entrariam em campo no clássico diante do Flamengo com uma faixa de protesto?

Fui informado de que seria um manifesto. Aquilo foi uma voz dos jogadores.

Haverá novo protesto no sábado, contra o Cruzeiro?

Não sei. Para falar a verdade, eu soube daquela faixa em cima da hora. Eles costumam me comunicar tudo. Somos uma unidade lá dentro.

É a favor desse tipo de protesto?

Eu acho que esse tipo de manifestação gera também um desgaste. Aí, para piorar, o time perdeu o jogo... O que tenho falado é que temos que tentar reverter dentro de campo.

Acha que haverá debandada de jogadores?

Não consigo dizer sim ou não. A maioria já jogou mais de seis partidas. Seria muito triste se o Botafogo perdesse atletas. A gente formou um exército que está lutando contra uma série de coisas, e eu espero que todos fiquem.

Com tantos problemas, fica ainda mais preocupado com o jogo de sábado, contra o Cruzeiro?

Vai ser uma pedreira, mas esse tipo de jogo às vezes é até mais interessante, pois aumenta a motivação dos jogadores.

Marluci Martins Leia mais: http://extra.globo.com/esporte/botafogo

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