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terça-feira, 26 de março de 2013

Cereja do bolo


Peço desculpas por tocar novamente neste assunto. Gosto demais de futebol, minha vida gira em torno disso, e eu odeio discutir arbitragem. Em um mundo perfeito, a arbitragem seria sempre neutra, nunca erraria, nunca seria notada em campo. Infelizmente, no futebol não é assim. Bons juízes são exceções, são lembrados. Descontando o glamour e a mídia que o futebol tem, que outro esporte dá tanta atenção aos juízes? Repito: eles deveriam ser neutros, não deveriam ser notados.

Não foi o que aconteceu ontem com o árbitro de Madureira 1 x 2 Botafogo, o ilustríssimo senhor Philip Georg Bennett.

Ontem eu quis deixar claro aqui que não acreditava que ele tenha ido apitar com a intenção de aparecer ou de prejudicar Botafogo ou Madureira. Continuo com essa impressão, aliás. O problema é a falta de preparo, a falta de orientação, a falta de profissionalização desta ocupação: o(s) árbitro(s) do maior esporte do mundo.

Realmente a culpa não é dele, mas do “sistema”, que precisa ser reformulado. Após uma arbitragem confusa, vi, com pesar, elogios por parte de Jorge Rabello, presidente da Comissão de Arbitragem da Federação de Futebol do Rio. Aí complica.

Além do quadro já apresentado, se um garoto passa o ano inteiro sem estudar, na “vagabundagem”, repete o ano no colégio e ainda é elogiado pelo pai depois de tudo isso, a culpa é do pai ou do garoto? Acho que é do pai.

Hoje foi publicada a súmula da partida (veja aqui, na íntegra). E foi a cereja do bolo. Há erros de português e de lógica, além de não mostrar o que de fato ocorreu. Como discordo de quase tudo, achei por bem escrever aqui de novo.

Abaixo, segue a justificativa da expulsão de Seedorf (recortado da súmula) e, depois, alguns comentários.





1) Quem deu essa informação (que Seedorf seria substituído) se a placa já informava que o número 27, Cidinho, é que sairia substituído para a entrada de André Bahia, número 19? Respondo-vos: quem “informou” foi a “pressão” dos jogadores do Madureira, os quais, inclusive, chegaram a peitar o árbitro “cobrando” uma atitude. Eu estava lá, eu vi tudo com meus próprios olhos. Ninguém me contou. Ah: tive o cuidado de deixar o jogo gravando em casa enquanto ia para Moça Bonita. Veja ao lado como a placa informava que o jogador que sairia seria o de número 27 (Cidinho). Onde o senhor Philip Georg Bennett viu “10” nessa placa?

2) Mas, ok, vamos lá. Vamos dizer que o árbitro estava certo (mesmo não estando) e que Seedorf, de fato, deveria sair de campo. Se o nosso jogador estivesse realmente se recusando a sair pela lateral, ele realmentemerecia o cartão amarelo, pois retardou o jogo. Mas por que ele recebeu dois amarelos pela mesmainfração?

3) Mas aí você que discorda pode me dizer: “mas, Caio, o cara diz que deu o 2º amarelo por que foi insultado”. Bem… A imagem não mostra isso. As imagens mostram que o 2º cartão amarelo só é dado depois denova pressão dos jogadores do Madureira, quando o Seedorf já está longe e correndo para a outra linha lateral. Você realmente acredita nessa história contada por ele? Acho que ele demorou muito para expulsar depois de ter sido supostamente insultado. Fico com a imagem, que sugere que ele levou dois amarelos pela mesma infração, o que é bizarro.

4) E, mais: Como acreditar em alguém que mente e omite tanto na súmula? Logo, posso (e devo) não acreditar no juiz, que relatou que Seedorf havia falado que “ele (o árbitro) estava de palhaçada”. Aliás, o que o juiz fala ou escreve deve ser tomado como verdade absoluta? A História nos mostra que não é bem assim. Devemos ter, no mínimo, um pouquinho de senso crítico. Eu tenho.

5) Aí a notícia de que Seedorf pode ser suspenso por até 6 jogos e que Seedorf terá que provar que não falou o que foi relatado. Isto me irrita demais: por que damos tanta credibilidade ao que os árbitros falam e relatam? Acreditamos cegamente nele! O árbitro, por acaso, tem como provar tudo que escreveu na súmula? Não.

6) Quem se lembra de Ganso, na final do Paulista de 2010? O então jogador do Santos se recusou a sair de campo substituído, e nada foi feito, pois o jogador tem esse direito. Sei que não foi o caso, a situação foi diferente, mas vale a lembrança.



7) Mais uma coisa: a imagem aqui do lado é clara ao mostrar que a substituição ocorre aos 48’33″ do 2º tempo (repare no tempo e na bandeira levantada pelo auxiliar, destacados na cor laranja). Seedorf, no entanto, foi expulso apenas aos 49’11″, conforme cronometrei. Isto é: André Bahia já havia sidoautorizado a entrar em campo. Inclusive já havia entrado.

8) Outra mentira: como destacado no recorte da súmula que “explica” a expulsão, o árbitro informa que Seedorf foi expulso aos 90′+3′. Não é verdade, foi aos 90′+4′ (ou até 90′+5′: o importante é que isto ocorreu aos 49’11″ do 2º tempo).

9) Como Seedorf poderia ser expulso por se recusar a sair de campo (para ser substituído), por onde o árbitro mandava, se a substituição já havia ocorrido e autorizada? O árbitro mandou algum jogador entrar sem que outro saísse, é isso?

10) A súmula inclusive relata que a substituição ocorreu com a saída de Alcides (Cidinho), como você pode ver abaixo. Contradição pura: Seedorf foi expulso por uma confusão com uma substituição já efetuada, autorizada e reconhecida. Quanto mais mexemos, mais fede essa súmula. E ele ainda foi elogiado…

11) Do impedimento de Seedorf até a anulação do pênalti passou, cronometrado, 1 minuto e 48 segundos. Curiosidade: por que o 4° árbitro demoraria tanto assim para avisar ao árbitro principal do impedimento do Seedorf? Ele teria sido paciente demais, esperando, inclusive, o posicionamento da bola na marca de pênalti. Estranho, novamente reforço a minha desconfiança de que houve interferência “extra-campo”.

12) E, falando nisso, uma bela questão levantada por um amigo meu, também botafoguense: “Eu só queria saber por que o ponto do juiz funciona pra voltar o pênalti, mas não para um dos outros cinco árbitros presentes falarem que a substituição já tinha ocorrido (fato este muito mais simples que um impedimento). Para que serve este ponto no ouvido do juiz?”

13) Última questão dessa súmula (mas agora falando do borderô): por que o prejuízo do jogo foi do Botafogo se o mandante foi o Madureira?

Chega desse assunto. Apesar de tentar mostrar fatos e argumentos de quem viu o jogo “com os olhos”, isto aqui não passa de (mais) uma opinião. Haverá, sempre, alguém que discorde e fale o contrário. E que bom que é assim.

Alguns com opinião profissional, outros com opinião de quem viu pela TV, outros com opinião de quem viu no estádio, outros com opinião de quem… não viu.

Reitero a minha opinião de que ver jogo pela TV é um mero recorte do jogo real. E isto não é uma crítica às transmissões ou às emissoras. Compare uma transmissão de hoje com uma de 20 anos atrás e veja o gigantesco avanço. Por morar no Rio, tenho o privilégio de poder ir a todos os jogos do Botafogo em casa. Quem sofre de longe sofre ainda mais, tenho certeza…

Bola para frente, descanso para Seedorf, aprendizado para Philip, consciência para o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro e profissionalização para a arbitragem brasileira.

Para nós? Títulos, vitórias e retomada do nosso enorme tamanho.

Venceremos.

Post-scriptum:

O leitor Rivaldo Santos alertou mais um erro do juiz: “Mais um erro do juiz: O André Bahia não deveria substituir um jogador expulso.”


por caio.f.s.araujo Curta a página do blog no facebook e siga meu twitter!

2 comentários:

  1. caro amigo li todo seu post e vc está de parabens, foi o melhor resumo que li até agora. acho q a diretoria do botafogo tem que ler esse seu relato, pois ajudaria muito na defesa do seedorf. fica meu abraço. beto da torcida angra-fogo de angra dos reis

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  2. Caro amigo Beto, agradeço a participação. Mas esclareço que o texto não é de minha autoria e sim do colunista Caio Araujo do Blog do Torcedor/GE e tive o mesmo sentimento que Vc teve quando o leu. Por isso fiz questão de reproduzir aqui e recomendar a leitura a todos os amigos Botafoguenses para que ficassem mais bem esclarecidos sobre o assunto.

    Valeu e recomende a seus (outros) amigos da torcida de Angra!

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