Nascido na terra que já foi reduto de pedras preciosas, atacante do Botafogo supera obstáculos e surge com status de grande promessa. Pai já foi vice-artilheiro no ES
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Luis Henrique foi crescendo e ganhando o Brasil. Já o cabelo foi diminuindo (Foto: Globoesporte.com) |
Além da "procedência" regional, a joia alvinegra ainda tem no sangue um DNA que é sinônimo de bola na rede. Curiosamente, em 2001, quando Luis Henrique tinha apenas três anos, quem se destacava pelos gols marcados era... seu pai. Atuando pelo Linhares-ES, Elvimar alcançava o seu auge com a vice-artilharia do Capixabão. Sem saber, o pai fazia da sua carreira o laboratório para o filho, que o acompanhava até nas concentrações.
- Desde pequeno eu ensinei ele, inclusive a bater com as duas pernas. Eu joguei durante cinco anos. Parei em 2003. O futebol é muito rápido, tem que ter os pés no chão. E isso ele aprendeu comigo. Ele ia comigo para as concentrações e já passou um tempo nos clubes comigo, nos hotéis onde morava. Eu mesmo (vivi essas oscilações do futebol). Estava bem, no auge, tive uma lesão no joelho e logo depois tive que encerrar a carreira. Então, ele acompanhou isso, esses altos e baixos. - disse Elvimar, pai do jogador.
O fim da carreira de Elvimar chegou na mesma época que Luis Henrique descobria a paixão pelo futebol. Com sete anos e incentivado por uma família boleira, o garoto de chamativo cabelo loiro longo - que gostava de enrolar com a ponta dos dedos - chegava às mãos do técnico Palmito, responsável pelo time amador da cidade para garotos de até 12 anos. Nascia ali, no Campo do Flamengo - que ironia -, o jovem carinhosamente chamado de Ike, a pedra bruta que se tornaria mais tarde uma joia de R$ 60 milhões de Itarana.
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Luis Henrique ficou cerca de quatro anos no time amador de Itarana, onde acumulou títulos e troféus de artilheiro – o pai guarda todos com orgulho. Seu técnico resume a época como “ganhadora de tudo”. Entretanto, o fim do casamento dos pais mudaria para sempre a rotina e a vida do jovem promissor de 11 anos. Junto com os outros dois irmãos da relação, João Vitor e Cinara, Ike se mudou com a mãe Tanara para o Rio de Janeiro. O ano era 2009 e o destino não seria fácil para o menino loiro nos dois primeiros clubes.
O INÍCIO: DECEPÇÕES NO FLA E BAHIA
Comissária de bordo, a mãe enxergou no Rio de Janeiro a oportunidade para fazer Luis Henrique deslanchar naquilo que o filho adorava fazer. Até hoje é ela que cuida da carreira do atacante. O primeiro clube na cidade maravilhosa foi o CFZ (Centro de Futebol Zico) junto com o irmão João Vitor – que depois abandonou para seguir carreira acadêmica. O início foi na escolinha, mas logo o talento do menino loiro tímido chamou a atenção dos coordenadores da base. Em 2010, a primeira grande chance. O CFZ cedeu alguns jogadores para o Flamengo quando Zico fazia parte da diretoria rubro-negra. Luis Henrique era um deles.
Foram pouco mais de dois anos no Flamengo. Entretanto, a dificuldade na adaptação à cidade grande e também a polêmica saída de Zico do clube - o principal motivo justamente por conta de uma parceria com o CFZ - aceleraram a dispensa do jovem.
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Tanara é mãe e empresária do filho Luis Henrique (Foto: Gustavo Rotstein) |
- Depois que ele foi dispensado do Flamengo, ele voltou aqui para Itarana junto com o outro irmão. Claro que ele ficou abalado, normal. Mas nunca ouvi dele a intenção de desistir do futebol. Depois, eu mesmo consegui um teste para ele no Bahia - contou o pai.
Na capital baiana, Luis Henrique viveria o momento mais dramático da curta carreira. Era a última semana do ano de 2012 e o jovem atacante embarcara sozinho em busca do sonho... que na verdade se configurou um pesadelo. O jogador ficou apenas uma semana e foi dispensado repentinamente no dia 31 de dezembro. Ao garoto fora informado que o clube não o abrigaria e nem custearia suas refeições. Com 13 anos, Luis Henrique, longe dos pais, vivia um apuro que a família hoje considera um erro e se arrepende.
- Foi um susto muito grande. Tive que pagar passagem às pressas. Pegou a gente de surpresa, mas foi parte do aprendizado. Percebi também que ele já absorveu melhor essa segunda dispensa. E a mãe dele seguiu procurando, fez um DVD – contou Elvimar.
NO BOTAFOGO, UM METEORO
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Luis Henrique comemora ao lado de Pimpão um dos dois gols na estreia (Foto: Vitor Silva/SSPress) |
Logo no primeiro campeonato que disputou foi vice-artilheiro: 16 gols no estadual da categoria. No entanto, foi na Copa do Brasil Sub-17, competição que o Botafogo foi vice-campeão, que Luis Henrique despontou para o cenário brasileiro. Com 14 gols, o atacante foi o responsável por 60% das vezes em que o alvinegro balançou a rede na competição. E mais: deixou de marcar em apenas um jogo e fez dois hat-tricks. Tudo isso em só 10 partidas
Os números e atuações chamaram a atenção do então técnico dos profissionais, René Simões. A recente saída do centroavante Bill abriu ainda mais espaço para Luis Henrique, que venceu a concorrência de Vinícius Tanque – artilheiro do Sub-20 – e ganhou uma vaga no time titular. A história? Estreia com dois gols e quatro até aqui como profissional. Surpresa? Só para quem não conhecia o Ike, aquele menino da cidade de pouco mais de 10 mil habitantes.
- Quem conhece o Luis Henrique sabe que ele tem potencial para isso tudo que está acontecendo. Só que foi muito de repente. Ele pegou uma oportunidade boa, que foi a Copa do Brasil Sub-15, e aproveitou bem. Ainda mais que o Brasil está carente deste tipo de jogador. Surgiu na hora certa. Talento ele tem. A gente não esperava isso tudo assim, de cara. Surpresa de um lado, mas quem conhece sabe que ele tem potencial, que vai vingar.
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Pai de Luis Henrique exibe com orgulho as camisas que o filho já vestiu. Ao lado, a madrasta, a avó e a irmã Cinara (Foto: Chandy Teixeira) |
EM ITARANA, "APENAS" FILHO DO ELVIMAR
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Pedra da Onça: local foi palco de corrida por pedras preciosas no século passado (Foto: Chandy Teixeira) |
Para se ter uma ideia do que representa este "caminhão" de dinheiro para o município que ainda guarda muito da cultura rural, o Estádio Municipal é uma boa referência. Popularmente conhecido como Campo do Flamengo, local onde Luis Henrique deu os primeiros chutes, foi abandonado por administrações anteriores. O atual governo tentou captar recursos com o estado para obras, mas não obteve sucesso. A saída foi fazer um grande esforço, nas palavras do prefeito, e custear a obra de reerguimento com o cofre municipal. O aporte? R$ 800 mil. Um sacrifício de uma cidade que representa apenas 1,3% da multa rescisória do filho ilustre.
- É um orgulho para a nossa cidade. Espero que apareçam mais filhos ilustres por aí. Em setembro, inclusive, teremos uma feira agropecuária e nós o homenagearemos. Essa festa homenageia também todo ano um itaranense ausente, e agora será ele. Todos aqui estamos muito felizes e torcendo para ele ganhar o mundo - afirmou o prefeito de Itarana, Ademar Schneider.
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Meninos treinam no mesmo campo que Luis Henrique começou. Joia já é o grande ídolo da meninada de Itarana (Foto: Chandy Teixeira) |
- Muita gente veio pedir autógrafo. Ele estava aqui na frente de casa conversando com os amigos, sempre com uma bola. Aqui ele fica mais solto, é só o filho do Elvimar. Foi bom ele ficar aqui, ele estava há quatro partidas sem fazer gol. Depois, voltou e fez - disse o pai se referindo ao jogo contra o Bahia.
Entretanto, é inegável que Luis Henrique seja o assunto de todas as ruas de Itarana. Além do talento com a bola nos pés, outra característica do garoto valioso a cidade atesta: o estilo reservado. Não é difícil encontrar alguém que faça questão de dizer que ele tem uma personalidade fora do padrão "boleiro".
- É um cara excelente. Menino muito tranquilo. Ele é sério, reservado. Nem muito extrovertido, nem muito introvertido. Vejo ele muito centrado. A família toda é assim - disse Zé Maria, assessor parlamentar e figurinha fácil na cidade.
Por Chandy Teixeira Itarana, ES/GE
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